Vejam como são assustadores estes números: 112.709 pessoas morreram em situações de violência no Brasil, no ano de 2012. Isto equivale a 58,1 habitantes a cada grupo de 100 mil e, segundo o Mapa da Violência de 2014, lançado neste mês de julho, é o maior índice da série histórica já registrado. O sociólogo responsável pela publicação do estudo, Júlio Jacobo Waiselfisz, esclarece que há uma tendência confirmada nesses estudos: a disseminação da violência nas diferentes regiões e cidades. As regiões Norte e Nordeste experimentaram aumento exponencial da violência. No Norte, por exemplo, foram registrados 6.098 homicídios em 2012, mais que o dobro dos 2.937 verificados em 2002. O Amazonas, Pará e Tocantins tiveram o dobro de assassinatos registrados no mesmo intervalo de tempo.
Os jovens foram as vítimas em 53,4% dos casos, o que mostra outra tendência diagnosticada pelo estudo: a maior vitimização de pessoas com idade entre 15 e 29 anos. As taxas de homicídio nessa faixa etária passaram de 19,6 em 1980, para 57,6 em 2012, a cada 100 mil jovens, e as principais vítimas são os motociclistas. Jacobo entende que essa situação é fruto de um esquema ideológico que apresentou a motocicleta como “carro do povo”. Por ser econômica, de fácil manutenção. “Assim, em vez de se investir em transporte público, o trabalhador pagaria sua própria mobilidade. E mais, fez dela o seu trabalho, seja como motoboy, entregador ou mototaxista, em situação de escassa educação no trânsito, pouca capacidade de fiscalização e baixa legislação”, analisa o sociólogo.
O adolescente, o jovem e a sociedade
O mapa da violência destaca que é importante lembrar que o problema da violência no Brasil, considera vários aspectos e matrizes, passa por questões sociais, políticas, econômicas e educacionais. As evidências disso estão registradas no mapa deste ano.
Nesse sentido, os dados afirmam que é preciso ter mais programas e políticas públicas para atender os adolescentes e jovens. Quanto a esse respeito, o sociólogo Waiselfisz analisa que é necessário estudos para entender esse público. “Quando iniciamos esses trabalhos, não existia uma clara definição do que era o ser jovem na sociedade brasileira, não existia balizamento legal ou institucional regulando essa fase da vida. Tínhamos, desde 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente, que conceituava a criança como a pessoa até 12 anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade. Mas sabíamos das largas diferenças pelas suas especificidades fisiológicas, psicológicas e sociológicas”, disse Waiselfisz.
Os estudos apontam para a importância de se conhecer melhor o comportamento dos jovens na sociedade, os problemas pertinentes a essa fase da vida, bem como as potencialidades dos adolescentes em formação e da juventude em busca da maturidade. “Havemos de considerar que a adolescência constitui um processo fundamentalmente biológico durante o qual se acelera o desenvolvimento cognitivo e a estruturação da personalidade. Já o conceito juventude resume uma categoria essencialmente sociológica, que remete ao processo de preparação para o indivíduo assumir o papel de adulto na sociedade, tanto no plano familiar quanto no profissional, isto é, tanto na produção quanto na reprodução da vida humana”, enfatiza Waiselfisz.
Violência em Rondônia
Ainda conforme dados apresentados pelo Mapa da Violência 2014, Ariquemes é uma das cidades que mais registram assassinatos de jovens em Rondônia. Em 2008, foram registrados 33 mortos; em 2009: 40; em 2010: 23; em 2011: 25 e em 2012: 28 mortos. Outro município que apresenta números preocupantes é Cacoal. Com população estimada em 85.863 habitantes, a cidade registra grande índice de acidentes no trânsito, com significativo número de óbitos e de vítimas que ficaram com sequelas permanentes. Segundo dados da Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito (Semttran-Cacoal), houve 5.129 acidentes de trânsito entre 2009 e 2013.
O secretário de Transporte e Trânsito (Cacoal/RO), Gerson Antônio Sapper, concorda que o número de acidentes é preocupante. Por isso, segundo o secretário, a Semttran-Cacoal tem desenvolvido projetos educativos junto à população, principalmente nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, “com o objetivo de promover uma maior conscientização dos pedestres e dos motoristas de uma forma geral”, explica Antônio.
Para a educadora de trânsito, Lucen Baine Ribeiro, é importante “lembrar que os projetos contam com a participação das instituições de ensino do município e os resultados têm sido positivos, visto que houve uma diminuição no índice de acidentes ocorridos no ano passado”.
Entre outras atividades desenvolvidas no município, Lucen destaca o Programa Educacional Trânsito Seguro (Pets), que tem como objetivo promover e incentivar ações educativas de trânsito para os alunos do quinto ano do Ensino Fundamenta II. O programa enfatiza a circulação, a conduta, a socialização e a cidadania. O Pets, que está fundamentado nas Diretrizes Nacionais da Educação para o Trânsito, é oferecido aos alunos através de lições com material didático, aula expositiva, vídeos e atividades extraclasse. Além de trabalhar educação de trânsito nas escolas, o Pets também orienta os familiares, pois as crianças discutem com os pais os conteúdos apreendidos nas aulas, informa a educadora.
Por, Edilene Santiago – Fotos: Jota Gomes/Diário da Amazônia