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Diário da Amazônia

Bancos apostam em piora da economia

Escalada do dólar levou Itaú e Bradesco a reduzirem projeção do PIB para este ano

Por Jornal do Brasil
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Publicado: 12/06/2018 às 14h26min

Há pouco mais de um ano, o mercado financeiro apostava que o bom desempenho da economia ia influir no quadro eleitoral. Ao se despedir da presidência executiva do Itaú, em abril de 2017, Roberto Setúbal previu que o PIB de 2017 cresceria 1,5% e o PIB de 2018 teria alta de 4%. A economia seria ‘o grande eleitor’ em 2018’, apostava o mercado. Mas veio, em 17 de maio, a divulgação das gravações do presidente Temer por Joesley Batista (em 7 de março, no Jaburu), e o cenário mudou radicalmente.

A reforma da Previdência, que seria votada em maio de 2017, subiu no telhado. O Copom não acelerou a queda dos juros em 31 de maio e o PIB de 2017 desacelerou e cresceu só 1%. Em dezembro, os bancos refizeram as projeções para 2018 com viés de baixa no PIB e na inflação. Com o cenário político indefinido e seguidas frustrações no avanço das reformas, a greve dos caminhoneiros mostrou, em maio de 2018, um governo enfraquecido e um cenário econômico que se deixa influenciar pela política.

Parodiando James Carville, assessor do democrata Bill Clinton, que criou a expressão “é a economia estúpido” para explicar a derrota de George Bush, pai, “é a política, estúpido”, que virou a biruta do mercado.

Caem IPCA e PIB; dólar sobe

De acordo com o Relatório Focus, divulgado ontem pelo Banco Central, com base nas informações até dia 8 de junho, o mercado fez ajustes nas projeções para o PIB e a inflação deste ano. A mediana das expectativas para o crescimento de 2018 recuou de 2,18% para 1,94%, enquanto que para 2019 a mediana recuou de 3,0% para 2,8%. No fim de 2017, as apostas eram de que o PIB cresceria 2,95% este ano. Para o IPCA, a mediana avançou de 3,65% para 3,82% para 2018, e de 4,00% para 4,07% para 2019. No câmbio, as medianas das expectativas para dezembro de 2018 e de 2019 ficaram estáveis em R$/US$ 3,50.

Salto na inflação de junho

Em função da alta dos combustíveis e da escalada de preços na greve dos caminhoneiros e o novo patamar alcançado pelo dólar, o mercado agora espera, na média, um salto na inflação do IPCA dos 0,40% de maio para 0,53% em junho. O Itaú espera 1% em junho. Isso elevaria a taxa em 12 meses para 4,1% (o IPCA de julho de 2017 foi negativo em 0,23%), mas o Itaú apenas elevou de 3,7% para 3,8% a projeção do IPCA em 2018 e o de 2019 foi mantido em 4,1%. O Bradesco foi mais comedido: prevê, alta de 0,70% no IPCA de junho e de 3,90% no ano. Antes era de 3,70%.

Ontem o Itaú, que foi reduzindo o otimismo em torno do crescimento em 2018 (3%, no final de 2017 e 3,7% para 2019), reduziu novamente as projeções de PIB, e aumentou as de inflação e taxa de câmbio. O PIB deve crescer apenas 1,7% este ano (a projeção de maio tinha baixado para 2%) e 2,5% em 2019 (a projeção do final de 2017 era de 3,7%, caiu para 3,2% em março e tinha descido a 3% em maio). O Bradesco foi ainda mais pessimista: a alta do PIB esperada para 2018 é de apenas 1,5% (era de 2,8% no começo do ano) e a taxa de 2019 caiu de 3% para 2,5%. O IBGE vai rever os dados.

O peso do dólar

A volatilidade do mercado de câmbio, que está à beira de um ataque de nervos com o fortalecimento do dólar diante das moedas dos países emergentes, à espreita de novas altas das taxas de juros do Federal Reserve Bank (que se reúne hoje e decide amanhã o nível dos juros), levou o Itaú a rever para R$ 3,70 o novo patamar do dólar em dezembro de 2018 e 2019. O Bradesco espera R$ 3,60 para os dois anos. Já o mercado, na pesquisa Focus, espera R$ 3,50 para 2018 e 2019. Para estabilizar o mercado, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, anunciou ontem que vai injetar US$ 20 bilhões em swaps até o dia 15, além dos US$ 750 milhões diários, o que somaria US$ 38,6 bilhões em 30 dias.

Realista, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, já admitiu que o governo está revendo as projeções da economia para baixo. Com o PIB menos acelerado, a arrecadação pode ser menor pela fraca expansão das vendas da indústria, do comércio e do setor de serviços. E, como o mercado financeiro não espera, apesar do novo patamar do dólar, salto na inflação, não haveria também aumento de receita sob impulso da inflação.



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