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Diário da Amazônia

A importância da preservação dos quelônios

No período de 12 e 15 deste mês, aconteceu a subida de tartarugas e tracajás para a desova nas praias do Vale do Guaporé. Este ano o..

Por Sílvio Santos Diário da Amazônia
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Publicado: 22/10/2017 às 00h20min

Carlos Paraguassu viajou junto com a equipe para acompanhar a desova das tartarugas e tracajás no Vale do Guaporé

No período de 12 e 15 deste mês, aconteceu a subida de tartarugas e tracajás para a desova nas praias do Vale do Guaporé. Este ano o superintendente do Ibama, em Rondônia, fez questão de acompanhar o trabalho dos técnicos do órgão federal, em parceria com a Ecovale que tem o Zeca Lula como especialista no assunto preservação de quelônios. Além do Carlinhos Paraguassu, o fotógrafo Rosinaldo Machado também participou da ação cujo ápice, deve acontecer a partir do dia 4 de dezembro, quando acontece o fenômeno da eclosão, que este ano, está estimado em mais de 2 milhões de filhotes.

ENTREVISTA

Zk – Você é de onde?
Carlos Alberto – Nasci no distrito do Iata em Guajará-Mirim em 1960.

Zk – Vamos falar sobre a desova das tartarugas e tracajás este ano no Vale do Guaporé?
Carlos Alberto – Esse é um projeto que chamamos de Quelônios da Amazônia que vem desde a década de 1970 no Vale do Guaporé. Hoje a responsabilidade da preservação das tartarugas e tracajás é do Ibama em parceria com a Ecovale.

Zk – Antigamente o reduto de tartarugas e tracajás era nas praias do rio Madeira em especial na Praia do Tamanduá. Alguns dizem que essas espécies foram levadas daqui, pro Vale do Guaporé. É verdade?
Carlos Alberto – Isso é um pouco de mito! Naturalmente o berço do projeto de preservação foi no Vale do Guaporé, o povoamento. Na realidade toda extensão da bacia do Madeira possui quelônios, em menor proporção.

Zk – Há alguns anos, mantive contato com uma equipe de biólogas lá em Costa Marques que pertenciam ao Tamar. Você sabe se aquelas biólogas trabalhavam para o IBDF ou Ibama na época?
Carlos Alberto – Passaram muitas pessoas por lá, por esse programa de preservação, porém, com todo o cuidado que a gente tem do manejo que corresponde a proteção da desova, o recolhimento dos ovos, a leva a um criadouro, até o processo de eclosão nascimento do filhote, até a soltura, demanda tempo, um período de aproximadamente seis meses. Tivemos a felicidade de nos últimos tempos, termos aqui, a presença marcante e decisiva da Ecovale que é uma Associação Comunitária Quilombola do Vale do Guaporé hoje sob a presidência do nosso amigo Jorge, mas, quem está a frente dos trabalhos de campo, que faz toda a articulação política é o nosso amigo Zeca Lula.

Zk – Vocês têm a estimativa da população de quelônios atualmente no Vale do Guaporé?
Carlos Alberto – Pra se fazer uma estimativa é preciso uma sequência histórica. Por alguns anos, o programa ficou um pouco debilitado, no sentido da proteção do poder público. Com esse distanciamento das ações mais diretas, perdemos o fio da meada. Com a legitimação e acompanhamento, supervisionamento das ações da Ecovale, como também um trabalho que estamos desenvolvendo junto a toda população do Vale no sentido de que cada morador, cada pessoa que visite o Vale do Guaporé também seja um protetor dos quelônios. Posso dizer que com a nossa presença no Vale do Guaporé, as ações da Ecovale passaram a ter o respeito de todos aqueles que usam o Vale do Guaporé.

Zk – Tem como estimar a quantidade de tartarugas que desovaram este ano?
Carlos Alberto – Nosso biólogo Alexandre pode responder com mais precisão porque ele acompanhou melhor. A saída das tartarugas para desova, também foi registrado pelas nossas imagens e pela contagem de pesquisadores de diversas instituições que participam do programa que é também de interesse científico. Este ano, pela proteção que houve com um trabalho prévio de orientação e educação ambiental e da legitimação da Ecovale, foi o ano que mais saiu tartaruga e tracajás para a desova.
NR – O fotógrafo Rosinaldo Machado que acompanhou a desova, nos informou que os técnicos estimaram em aproximadamente 30 mil tartarugas e tracajás que saíram para desovar em 2017.

Zk – Com esse recorde, dá para estimar quantos filhotes vão eclodir?
Carlos Alberto – A eclosão está prevista para começar lá pelo dia 4 de dezembro. É provável que o número de filhotes ultrapasse os 2 milhões.

Zk – Quais são os grandes predadores.
Carlos Alberto – Temos diversos predadores, tanto terrestres, como aéreos com os que estão na água. Porém, o predador cruel é o ser humano.

Zk – Existe uma previsão para o consumo desses animais, ser liberado?
Carlos Alberto – Alguns Estados da federação têm criadores legalizados. Em Rondônia não temos nenhum criador legalizado para comercializar nenhum tipo de espécie.

Zk – Você falou em parceria com os quilombolas. Não seria o caso de se preparar essas comunidades no sentido atuarem como criador com direito a comercializar as espécies?
Carlos Alberto – Os quilombolas estão desempenhando um papel importantíssimo, que é de preservação. Eles por ser consumidor nato, pois, quelônio faz parte do cardápio da cultura dos quilombolas do Vale do Guaporé, com o passar do tempo e com a agressividade da exploração que ocorria, houve uma manifestação espontânea dessas pessoas que vivem em condições de extrema precariedade, em se organizar, para defender algo que eles consideram integrante da natureza.

Zk – Por você ser um rondoniense nato e da região de Guajará-Mirim onde se consumia muita tartaruga e tracajá. Qual o seu prato preferido?
Carlos Alberto – Sorrindo… Pois é! Você sabe que a tartaruga e o tracajá fazia parte do cardápio das populações mais antigas em épocas passadas. Era outra legislação, a população se alimentava desses bichos silvestres sem grandes problemas. O grande problema naquela época, é que se capturavam as fêmeas quando elas saíam pra desovar. Isso foi que levou à diminuição drástica da espécie.

Zk – Por que o Vale do Guaporé foi escolhido para o desenvolvimento do programa de preservação de quelônios?
Carlos Alberto – No caso do Vale do Guaporé, por ser uma região mais afastada, menos ocupada humanamente foi que se projetou um programa de preservação de quelônios naquela região, que hoje já sofre pressão muito grande. Os municípios estão crescendo, a população tá chegando. Hoje o fluxo de turista é muito grande, principalmente nessa época do ano. Aquilo é uma coisa muito bela.

Zk – Vamos tomar como exemplo a eclosão deste ano que deve ultrapassar os 2 milhões de animais. Quantos conseguem chegar à idade adulta?
Carlos Alberto – A taxa de sobrevivência, vamos dizer que é 1 pra 10. É muito pouca. A tartaruguinha é consumida tanto pelas aves, como pelos peixes. Isso faz parte da cadeia natural.

Zk – Para encerrar. Como é administrar o meio ambiente, principalmente na Amazônia?
Carlos Alberto – O Ibama aqui em Rondônia é uma superintendência e por força da Portaria que normatiza as atribuições e o Regimento Interno do Ibama, que é muito clara em seu artigo 122. – Às superintendências estaduais compete tão somente a coordenação, planejamento e operacionalização e execução das ações do Ibama e a supervisão técnica demandadas pelas diretorias. Hoje, pela portaria normativa nº 14 de junho de 2017, as superintendências que é o nosso caso, se encolhem cada vez mais. Para você ter ideia, hoje temos uma superintendência em Porto Velho e duas unidades técnicas para atender 52 municípios. Uma unidade em Vilhena e outra em Ji-Paraná. Posso dizer, que mesmo com pouco orçamento não houve prejuízo das atividades que são da competência da superintendência.

Zk – E o MAB de Jaci?
Carlos Alberto – Este ano já fomos ocupados três vezes. Essa última, por mais que tenha sido agressiva do ponto de vista do modus operandi como ocorreu, sentamos na mesa de negociação para tentar levar a cabo aquelas reivindicações pautadas pelo MAB e conseguimos com muita conversa, muito dialogo e reais possibilidade de soluções de algumas demandas fazer com que o MAB desocupasse nosso prédio. É como diz o João Marcos, um dos líderes do Movimento: “Somente um sangue caboclo, um sangue de índio, um sangue ribeirinho, muita tranquilidade e muito diálogo consegue minimizar uma coisa que estava a ponto de explodir”. É isso. Obrigado!



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