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Diário da Amazônia

A natureza em ‘pontilhismo’ de Dutka

Após Licenciado: “Aí que o rio Madeira entrou definitivamente em minha vida.”

Por João Zoghbi Diário da Amazônia
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Publicado: 04/02/2018 às 06h30min

Artista visual e professor Flávio da Silva Dutka

Flávio Dutka, no silêncio de seu atelier natural, em paz, desenvolve em sua produção uma das técnicas mais antigas do universo da arte, o pontilhismo (do francês pointillisme). Tanto à bico de pena como à pincel ou outro qualquer material macio e pontiagudo, com leveza e simples toques repetitivos de centenas e milhares de pontos harmoniosamente se compõem e tomam formas diversas na superfície do papel couché ou simples folhas de caderno ou sulfite. Recebe toda energia que emana através do pensamento até suas mãos, das expressões surrealistas a figuras humanas diante da natureza exuberante captura em sua retina detalhes do universo natural e de pequenos vestígios humanos nos ensaios de jardins da área e do quintal, portões, janelas, varandas, escadas de madeira nos barrancos e pequenos portos de buritis flutuantes com perfiladas e ancoradas, vezes solitárias, ‘canoas caboclas’.

O jardim: relevante releitura de 1999

Flavio da Silva Dutka nasceu na cidade de Iguatu no estado do Paraná, a origem do seu nome, o sobrenome da parte do seu pai é (Bohdan), ele é filho de ucranianos, o caçula de seis irmãos. Seus pais quando vieram para o Brasil depois do que eles passaram e viram, durante a revolução de Outubro e a Primeira Guerra Mundial. Sua mãe Zarda da Silva Dutka era filha de portugueses.

A Clareira: Nankin e Pastel seco sobre papel

O fazer artístico de Dutka vem desde à infância: “Desde pequeno sempre demonstrei facilidade e aptidão para o desenho, meus brinquedos eram lápis e papéis era o máximo que podia ter, pois somos de origem humilde e havia outras prioridades mais urgentes. Eu procuro desenvolver e estudar o máximo de técnicas possíveis, sempre levando em consideração o espaço físico onde trabalho e me estabeleço. Por isso tenho uma preferência pelo papel e seus diversos usos como suporte, isso em virtude do trabalho que venho desenvolvendo ao longo de dez anos pelo baixo Madeira”.

Surrealismo: Pastel sobre papel Canson

Após a sua Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal de Rondônia, foi lotado nas comunidades ribeirinhas: “Aí que o rio Madeira entrou definitivamente em minha vida. Como funcionário municipal atuo como professor isso me proporcionou uma chance única de registrar alguns aspectos do universo e do cotidiano ribeirinho”, relata o artista e professor, Flávio.

Técnica:

O artista relata que usa basicamente em seus desenhos o ‘Nankin’ (É um material corante preto constituído de nanopartículas de carvão mineral. Desenvolvida pelos chineses há mais de 2 mil anos).

“É isso mesmo e os trabalhos coloridos são feitos com uma caneta hídricor alemã (de qualidade superior às marcas nacionais – Stabillo), lápis pastel e giz pastel além de aquarela, também uso estes suportes (papel, basicamente) dado a mobilidade que eles permitem”.

O Portão: Técnica mista sobre papel

O tema natureza é recorrente em suas obra depois de ouvir do mestre Franz krajkberg que este era realmente um assunto e um tema de relevância: “Juntei isso com a influência da artista visual e minha ‘madrinha’ RITA QUEIROZ e deu no que deu”.

Dutka nos pede, dada a possibilidade de colocarmos na matéria uma de suas obras de maior significado histórico e, a colocamos no alto da página ao seu lado: “Se for possível pode colocar este desenho? Ele está entre os mais relevantes que já fiz, é uma releitura do original de 1999”.

Piracema no rio Madeira: pontilhismo em Nankin s/ papel

Em 1992, o artista fora morar na cidade São Paulo, capital. Nesse período teve seus primeiros ensaios e, que o convenceram e o levaram a crer que se tornaria um artista: “Fiz um único curso de desenho de ‘Modelo Vivo’ na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em um curto período de um ano, entretanto, foi decisivo para aprimorar e entender o desenho. Daí em diante sou estudante de arte ‘autodidata’ e, junto a escolha para estudar História”.

Vista do rio Madeira: Nankin e Pastel sobre papel Canson

Exposições:

Fez exposições individual e participou de várias e memoráveis exposições locais, no Brasil e pelo mundo: “A minha primeira exposição foi em 1990 na ‘Semana da Arte da Força Aérea Brasileira’ no Sesi. Na Finlândia na galeria 0004, entre outras. No Hotel Vila Rica pelo projeto AmazonArt, outra em Brasília (DF) no Senado Federal. E, gostei muito de realizar a minha mais recente, na ‘Galeria Afonso Ligório, Casa de Cultura Ivan Marrocos”.

Jardins nos jarros: aquarela e nankin em pontilhismo s/ papel

Dutka tem várias referência das quais mais lhe motivou a fazer arte e tem um pensamento a respeito: “Acho desesperador passar neste mundo sem buscar algo que deixe sua marca. Quanto a realizar isso, o tempo dirá certamente. Isso cabe ao tempo. Que não é o cronológico”.

Quanto às ‘minhas referências’ relevantes, tenho sim: um mestre, Rita Queiroz; um autor, Rinaldo Santos; um artista visual, dois: Andy Wharol e Francis Bacon.” E, o que mais o levou a se inspirar e a produzir uma coleção, no caso específico, “ Baixo Rio Madeira” finalizando nos disse:

“É óbvio que qualquer artista que, se contasse com tempo e disposição para retratar as minhas comunidades ribeirinhas o faria, jamais deixaria esta oportunidade única passar, em troco, eu procuro com amor retribuir tudo procurando ser o melhor professor que meus alunos e admiradores possam ter”.



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