A Estrada de Ferro Madeira Mamoré está em completo abandono, apurou o Diário em visita ao local. No parque das máquinas é possível ver as marcas do tempo que a cada dia corrói um pouco mais da memória da cidade.
O acervo histórico está em processo de degradação. As locomotivas são um exemplo deste descaso e são consumidas pela ferrugem. Não existe qualquer manutenção, as máquinas ficam expostas ao sol e chuva sem nenhuma proteção.
Os galpões estão abandonados e cobertos pelo mato. Já a praça que antes costumava ser um lugar para passeio, onde as pessoas passavam horas contemplando o rio, hoje está quase deserta. Falta investimento, os bancos de madeira estão sem cor pelo desgaste, as grades de proteção, feitas também de madeira, estão quebradas, agravando o risco de acidentes.
Agora existe um policiamento no local, o que diminuiu assaltos e ponto de drogas, mas à noite fica impossível de visitar a área. A falta iluminação torna o local esquisito e livre para o consumo de entorpecentes.
As pessoas que frequentam o lugar não se sentem seguras, como é o caso da jovem Cleide Barros, que visita a praça com seu marido e filha. Ela reclamou da segurança, que mesmo sendo dia, precisava escolher um horário para ir:
“Estamos aqui olhando para os lados e precisamos escolher um horário para vir aqui. Mas quando chega a noite, é impossível, pois é muito escuro”, explica a jovem.
Ferrugem
Segundo José Nazareno, que trabalha na estrada de ferro há 30 anos, depois a enchente de 2014 o local ficou ainda mais fragilizado devido a água. O processo de ferrugem acelerou e comprometeu mais rápido o tempo das máquinas. Segundo ele, a enchente histórica do rio Madeira acabou transformando o local, que antes era bem cuidado.
“ O abandono aqui é falta de interesse. Se todo ajudasse isso aqui logo voltaria a funcionar. Já faz muito tempo que está tudo parado. Com a enchente muita coisa deixou de ser feita na estrada de ferro, mas se os órgãos se juntassem teria como refazer tudo. Esta estrada é parte do turismo da cidade, e olha como está. Só existe a associação tomando conta, existe mais acervo guardado, a cegonha, o triciclo. Nós estamos fazendo aqui esse trabalho de preservação por amor à estrada de ferro. Nós queremos mostrar que isso aqui funciona, que nunca parou e não podemos deixar parar”, disse o antigo ferroviário.