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Diário da Amazônia

Cardeais pedem o fim da ‘praga da agenda homossexual’ na Igreja

CIDADE DO VATICANO – Conhecidos opositores do Papa Francisco, dois cardeais conservadores divulgaram nesta quarta-feira uma carta..

Por Extra Online
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Publicado: 20/02/2019 às 15h23min

Foto: TIZIANA FABI/STF

CIDADE DO VATICANO – Conhecidos opositores do Papa Francisco, dois cardeais conservadores divulgaram nesta quarta-feira uma carta aberta pedindo o fim do que chamam de “praga da agenda homossexual”. Raymond Burke, dos Estados Unidos, e Walter Brandmüller, da Alemanha, afirmam que o Vaticano erroneamente culpou o abuso de poder de sacerdotes como a principal causa dos escândalos de assédio sexual, quando, na verdade, os casos envolvem padres que “se distanciaram da verdade do Evangelho”.

Os dois são da ala mais conservadora da Igreja e criticam abertamente o Papa Francisco na carta divulgada às vésperas da reunião extraordinária convocada pelo Pontífice para tratar do abuso de menores pelo clero católico. O encontro reunirá 114 cardeais do mundo todo no Vaticano a partir desta quinta, reunião que é vista por especialistas como um marco na história recente da Igreja.

Na carta, Burke e Brandmüller escrevem que “o mundo católico está à deriva”. O texto continua: “Com angústia, surge a questão: para onde vai a Igreja? Diante da deriva, parece que a dificuldade se reduz à do abuso de menores, um crime horrível, especialmente quando é perpetrado por um sacerdote, que é, no entanto, só uma parte de uma crise muito maior. A praga da agenda homossexual difundiu-se dentro da Igreja, promovida por redes organizadas e protegida por um clima de cumplicidade e uma conspiração de silêncio”.

Os dois acrescentam: “O abuso sexual é atribuído ao clericalismo. Mas a primeira e principal falta do clero não reside no abuso de poder, mas em se afastar da verdade do Evangelho”.

Os cardeais são os segundos em importância abaixo do Papa e existem 223 deles na Igreja Católica. De acordo com informações da BBC, Burke tem ligações com o ex-conselheiro de Donald Trump, Steve Bannon, ideólogo de ultradireita que vem se articulando com governos populistas pelo mundo. Brandmüller, por sua vez, gerou polêmica ao dizer, em janeiro passado, que a homossexualidade seria a causa dos abusos na Igreja.

Em 2016, os dois fizeram parte de um grupo de quatro cardeais signatários de uma carta destinada ao Papa Francisco. Eles questionavam o documento em que o Pontífice, pela primeira vez, abria margem para que divorciados que voltaram a se casar pudessem receber a comunhão católica. Era, então, o início de uma guerra aberta entre a ala mais conservadora da Igreja, liderada por Burke, e o Papa Francisco.

A nova carta contra o Pontífice vem a público um dia antes de ter início o encontro de ao todo 190 clérigos de 130 países no Vaticano, entre cardeais, bispos e chefes de ordens e missões católicas. Convocada pelo Papa de forma extraordinária, a reunião batizada de “A proteção de menores na Igreja” é, segundo especialistas, tanto uma resposta da instituição para a sociedade, diante da escalada de denúncias de casos de abuso, quanto uma tentativa interna de atender à “política de tolerância zero” pregada publicamente pelo Papa Francisco.

Protesto no Vaticano
Nesta quarta-feira, na véspera do encontro, um grupo de sobreviventes de abusos cometidos por sacerdotes protesta no Vaticano. São dez vítimas que, mais cedo, conseguiram se reunir por quase três horas com cinco autoridades da Igreja, um dia antes do início do encontro sobre abuso de menores. O grupo reclama, porém, da ausência do Pontífice na reunião.

Numa resposta considerada dura e algo inesperada, o Papa afirmou que “acusadores que não fazem nada além de criticar a Igreja” são “amigos do diabo”. Por outro lado, voltou a repetir que os sacerdotes culpados serão punidos.

— Acreditávamos que esta manhã teríamos uma reunião entre o Papa e nosso grupo de sobreviventes — disse à Reuters o inglês Peter Saunders, que protestava no Vaticano. — Parece que o Papa, mais uma vez, está dando as costas aos sobreviventes e à proteção infantil em todos os lugares do mundo.

Outro membro do grupo, Peter Isely, que relata ter sido abusado por um padre na infância, disse que “se o Papa pode se reunir com todos os bispos, ele pode se encontrar com as vítimas”.

— Nós fizemos nossas exigências de tolerância zero (na reunião com as autoridades do vaticano). Queremos que o Papa escreva uma lei universal: tolerância zero para o encobrimento de crimes sexuais. E ele pode fazer isso agora — afirmou Isely a jornalistas após a reunião com os clérigos.

O Vaticano disse que a presença do Papa na reunião não estava sequer prevista e que ele encontrará sobreviventes durante a reunião oficial da Igreja a partir desta quinta-feira.



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