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Diário da Amazônia

Comércio prevê prejuízo de R$ 110 milhões com impacto das chuvas

Alagamento nas avenidas marginais da capital paulista afeta operações de grandes varejistas

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Publicado: 11/02/2020 às 09h11min

Foto: P Photo/ Adré Penner

As fortes chuvas que atingem a região metropolitana de São Paulo nesta segunda-feira (10) causam prejuízos na cidade e pioram as perspectivas para as vendas do comércio neste mês. A Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP) calcula um impacto negativo de R$ 110 milhões, ou 0,4% das vendas num mês comum.

A estimativa considera setores sensíveis à chamada “compra por impulso”, como as vendas de supermercados, farmácias, joalherias, setores de vestuário, decoração e artigos esportivos.

“A pessoa que vai comprar eletrodoméstico simplesmente posterga, então isso pode ser realocado. Para esses setores sensíveis, a compra não é feita, não é recompensada e é compra perdida. Aí, muitos comerciantes que preferem nem abrir a loja, o funcionário não chega, o volume de clientes é reduzido”, afirma Guilherme Dietze, economista da Fecomercio-SP. Para Dietze, porém, trata-se de um problema pontual. “É ruim, mas pequeno, não vejo como algo contínuo.”

O volume de chuvas em alguns pontos da capital atingiu 100 milímetros em três horas — praticamente a metade da média prevista para todo o mês.

A Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) relatou uma queda no fluxo de clientes. “Alguns estabelecimentos ficaram o dia todo sem energia elétrica além de algumas lojas que sofreram com a perda de mercadorias”, afirmou a entidade em comunicado. Também houve falta de abastecimento de produtos alimentícios de entrega diária.

Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), lembra que o impacto se soma a um mês mais curto e que ainda conta com um feriado prolongado.

“O comerciante tem alguns gastos que são fixos, como salários, mas a receita depende do número de dias. Quando tem dias muito prejudicados em um mês que já é curto e ainda tem o Carnaval, realmente o prejuízo fica maior”, diz Solimeo. O Carnaval neste ano cairá na última semana de fevereiro.

Caminhão na Ceagesp durante alagamento — Foto: Gabriel Bittencourt/Ceagesp

Além da redução nas vendas, Solimeo lembra que há também as perdas físicas. “Tem lugares em que a enchente atinge também os próprios estabelecimentos comerciais”, diz. Outro setor que deve ser afetado, segundo ele, é o de alimentação fora de casa.

A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) permaneceu fechada. O local comercializa cerca de 10 mil toneladas de mercadoria por dia. A distribuição de alimentos frescos para mercados e restaurantes está sendo afetada.

As interdições no trânsito das principais avenidas e rodovias de acesso à Região Metropolitana de São Paulo dificultam o abastecimento de perecíveis, especialmente carnes, em unidades do Grupo Pão de Açúcar (GPA).

Em algumas lojas da bandeira Minuto Pão de Açúcar, as prateleiras de embutidos e carnes estavam vazias. O mesmo acontecia com lojas do Extra Hiper na Guido Caloi, zona sul da capital, e do Assaí no município de Diadema. Procurado, o GPA informou que a operação está dentro da normalidade para uma situação como esta, mas não forneceu mais detalhes.

Outros setores também vivem um dia de prejuízo. Na construção civil, o ritmo de obras da MRV Engenharia — maior incorporadora do país — está reduzido na cidade de São Paulo, por dificuldade de deslocamento de pessoal devido às chuvas. A Helbor também informou que, em alguns canteiros de obras da Grande São Paulo, o número de operários não passa hoje de 30%.

A Decathlon informou em nota que, para preservar a segurança de seus funcionários e clientes, as unidades da Marginal Tietê, Villa Lobos e Lar Center, localizadas em áreas mais críticas, não funcionaram nesta segunda. São lojas de alto tráfego e que atendem zonas norte e oeste da capital paulista.

Na região das marginais, há uma concentração maior de unidades de redes de hipermercados, atacadistas, redes do setor de “pet” e lojas de material de construção (a chamada “faixa de Gaza”, na Marginal Tietê, com alta concentração de pontos). Parte delas não abriu as portas ou operou com limitações ao longo do dia.

Segundo informação de funcionários das varejistas em redes sociais, lojas do Atacadão, Carrefour, Extra, Magazine Luiza, Tok Stok, Cobasi e Petz, nas duas marginais, funcionaram parcialmente, com acessos fechados e falta de funcionários para reposição de mercadorias ou atendimento, segundo relato dos empregados.

Como as operações foram afetadas na segunda-feira, um dia de fraco movimento, os efeitos sobre a demanda são mais limitados, dizem especialistas. Ao mesmo tempo, como nas segundas há um alto volume de reposições de produtos para a terça-feira e a quarta-feira, esse reabastecimento para o início da semana fica parcialmente comprometido.

“O efeito nas vendas existe, mas é pontual, porque há transferência de demanda para outras lojas ao longo da semana”, disse Manoel Araujo, sócio da consultoria Martinez de Araujo.

Pátio de veículos alagado na Zona Oeste de São Paulo em 10/2/2020 — Foto: Reprodução/TV Globo

Prazo estendido

Varejistas com operação on-line têm informado clientes sobre o adiamento de entregas na cidade de São Paulo e estão estendendo prazos de envio das compras feitas pelos sites hoje, para entrega na capital paulista.

A Cobasi, varejista do segmento de produtos para animais domésticos, informou que as unidades mais afetadas pelas chuvas nas duas marginais ainda não iniciaram suas operações hoje. “Estamos avaliando a possibilidade de abri-las”, informou em nota.

“Quanto às entregas, por respeito aos nossos consumidores, já os comunicamos que ampliamos os prazos e que este será normalizado assim que a situação de trânsito e pontos de alagamento em São Paulo se normalizar”, informou a rede.

O Magazine Luiza também prorrogou os prazos de entrega “para que os clientes não sejam frustrados por possíveis atrasos”. Nas regiões afetadas pela chuvas, as entregas feitas por entregadores em São Paulo, que normalmente são feitas em 24 horas, aumentaram em mais 24 horas.

“A empresa vai monitorar as condições, nas próximas horas, para possíveis ajustes nas entregas”, disse a varejista, em nota. O Magazine Luiza disse que o abastecimento não foi prejudicado porque 30% da área das lojas são de estoque.

Outras regiões

As chuvas intensas já vinham afetando as vendas de lojas na região Sudeste desde janeiro.

Na semana passada, durante um evento do setor varejista, em São Paulo, diretores de redes de eletrônicos e de atacadistas informaram ao Valor que, na segunda semana de janeiro, as vendas desaceleraram por causa das chuvas em Minas Gerais e no Espírito Santo. E isso poderia afetar o desempenho do mês.

“Tivemos uma ‘barrigada’ na metade de janeiro por causa das chuvas. Não porque as lojas tiveram problemas, mas especialmente porque os clientes não apareceram”, disse o presidente de uma rede de varejo de eletrônicos.

Fonte: Valor Econômico



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