Porto Velho/RO, 22 Março 2024 13:45:43
SAÚDE

Derrotas são importantes no processo de aprendizado

É fundamental saber perder, embora não seja nada fácil lidar com derrotas e fracassos. E ao longo da vida são muitos os tropeços para..

Por Simone Cunha/Viva Bem UOL
A- A+

Publicado: 03/11/2019 às 13h10min | Atualizado 03/11/2019 às 13h20min

É fundamental saber perder, embora não seja nada fácil lidar com derrotas e fracassos. E ao longo da vida são muitos os tropeços para desafiar a capacidade de superação, desenvolver resiliência e fazer aprender. Mas para tirar algum proveito disso é importante analisar essas perdas, pode até doer um pouco, no entanto, essa reflexão pós-derrota é imprescindível para o crescimento humano. “As derrotas são importantes porque nos trazem novas visões e, mesmo uma repercussão mais negativa e que gera desconforto, tende a ser um enorme aprendizado”, diz Fernanda Faggiani, doutora em psicologia e professora da Escola de Ciências de Saúde da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Imagem: iStock

Não se culpe tanto

Existe uma tendência natural em se culpar diante de um fracasso e questionamentos costumam ficar martelando os pensamentos. No entanto, Faggiani diz que potencializar a emoção de tristeza ou frustração não contribui para o crescimento. “É difícil desconectar a emoção com a situação de derrota, mas vale muito mais refletir como poderia ter sido feito diferente”, ensina. Para a psicóloga Maria de Jesus Dutra dos Reis, professora do departamento de psicologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), conquistas e derrotas são uma sofisticada interação entre situações potenciais e como se planeja o melhor de tudo isso. “As perdas são um produto do que quero e das minhas expectativas, portanto, não conseguir algo deve ser visto como a possibilidade de ajuste para que dê certo em uma próxima vez”, fala Reis.

Apropriar-se de um fracasso trazendo isso para o lado pessoal, apostando na autocrítica e no autoflagelo apenas faz sofrer mais. Por isso, é saudável lidar com derrotas de forma que traga fortalecimento, ou seja, a emoção pode ser intensa só não deve paralisar. “O sentimento não pode ficar patológico, limitando e prolongando o sofrimento. Neste caso, uma escuta qualificada pode ser essencial para dar a volta por cima”, alerta a psicóloga Fernanda Faggiani.

Elimine esse peso

As derrotas surgem como foco para aprendizagem e superação. E para que haja resiliência é importante sempre analisar a situação da perspectiva que aconteceu. “Quanto mais quero alcançar algo que está longe de meu repertório, menos condições e mais desafios vou ter”, lembra Maria Dutra dos Reis. Segundo ela, é necessário estabelecer metas possíveis de serem cumpridas. De acordo com Reis, algumas pessoas criam expectativas que vão além de seu limite e a derrota acaba sendo previsível. Neste caso, é importante rever esses desejos e os caminhos escolhidos para conquistá-los. E até mesmo nas situações mais desafiadoras é importante planejar bem e dar passos pequenos. “Também é importante ter claro, que conseguindo ou não, isso não tem a ver com traço de personalidade: capacidade, criatividade ou inteligência, mas a maneira escolhida para aproveitar as oportunidades resgatando o que se tem de melhor em nós e ao redor”, salienta a docente da UFSCar.

O perfil de cada um

Portanto, eliminar o peso de algumas perdas já ajuda a se manter na caminhada. Ser um ganhador ou um perdedor depende do que planeja conseguir e se realmente são alcançáveis. Por isso, após um fracasso é fundamental avaliar o todo e apostar em ajustes necessários para conseguir numa próxima vez. A resposta aos fracassos também depende muito das crenças de cada um. Segundo o psicólogo Alysson Pacheco, mestrando em psicologia na Universidade Federal de Santa Maria/RS (UFSM), as crenças podem ser fixas ou de crescimento. “Há pessoas que têm uma perspectiva mais rígida em termos de crenças, o chamado mindset fixo, e tendem a adotar uma postura mais determinista classificando ou rotulando”, informa.

Este tipo de perfil, segundo Pacheco, pode enxergar o fracasso como uma limitação. E ao se deparar novamente com uma situação semelhante vem o temor de que se repita. Por isso, alguns optam pela fuga, evitando o problema, e outros partem para o enfrentamento devido à necessidade de provar sua capacidade. “Isso pode causar estagnação, pois a pessoa internaliza um rótulo e está sempre colocando em xeque o seu status podendo até minar sua autoconfiança”, acrescenta.

Já quem tem um perfil (mindset) de crescimento, conforme Alysson Pacheco, não percebe os fracassos como fracassos. “Tendem a compreender as situações de ‘derrota’ como parte do processo de evolução e aprendizado”, explica. Segundo ele, para este perfil, o fracasso se transforma em desafio, em oportunidade, sem que isso implique em ausência de dor. “Boa parte das grandes referências em diversas modalidades esportivas têm histórias de fracassos que foram marcantes, mas que se transformaram em oportunidade de aprendizado e crescimento”, assinala.

Nos dois exemplos, dor e sofrimento estarão presentes. Afinal, não é possível encarar uma derrota sem sentir o peso que ela traz. A diferença se dá na maneira como cada um lidará com o sofrimento. Quem tem crenças fixas enxerga o fracasso de forma mais pessoal, por isso autoestima e autoconfiança são mais afetadas. Já quem tem perfil de crescimento não costuma internalizar essa dor, mas continua trabalhando para evoluir e se preparar para os próximos desafios.

 



Deixe o seu comentário