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Diário da Amazônia

Especialista alerta sobre prisão de ventre

O Diário da Amazônia conversou com Dr. Laercio Ribeiro, membro da Federação Brasileira de Gastro, sobre o assunto.

Por Jaylson Vasconcelos Diário da Amazônia
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Publicado: 17/09/2017 às 06h25min

De acordo com dados da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FGB), aproximadamente 20% de brasileiros sofrem de prisão de ventre. No mundo, segundo a Associação Americana de Gastroenterologia, a prisão de ventre afeta 27% da população.

Deste número de pessoas, cerca de 90% não procuram um médico que os auxiliem a solucionar o problema e acabam recorrendo a automedicação.  Acontece que a prisão de ventre pode estar diretamente ligada a problemas sérios de saúde com o diabetes, disfunções na tireoide, síndrome do intestino irritável, ou até mesmo casos mais graves como câncer de cólon ou tumores na região abdominal.

O Diário da Amazônia conversou com Dr. Laercio Ribeiro, membro da Federação Brasileira de Gastro, sobre o assunto, segue abaixo a entrevista:

Existe algum fator que determina a prisão de ventre nos indivíduos?
Dr. Laercio – A constipação intestinal, comumente conhecida como “prisão de ventre”, ocorre como conseqüência de vários fatores. Os mais comuns são: alimentação inadequada, pobre em fibras; uso de medicamentos que diminuem o peristaltismo (movimento) intestinal; vida sedentária; e ingestão insuficiente de líquidos. As causas são, no entanto, extremamente variadas.

Dr. Laercio – As pessoas idosas apresentam vários fatores que favorecem o aparecimento de constipação intestinal como: sedentarismo, uso de medicamentos, mudança na dieta, passando a alimentar-se com produtos mais pobres em fibras e mais fáceis de mastigar, ingestão inadequada de líquidos, além de comorbidades (doenças associadas) que podem modificar a função intestinal, como o Diabetes mellitus e a Doença de Parkinson, entre outras. O problema principal da automedicação é a não avaliação adequada do quadro clínico por um médico, podendo retardar o diagnóstico de doenças graves que poderiam necessitar de tratamento específico. Por isso, é importante, antes de tentar qualquer tratamento, que seja feita uma avaliação clínica e, se necessário, testes diagnósticos, para afastar a necessidade de medidas terapêuticas específicas. Não podemos esquecer que o idoso é muito mais susceptível a doenças mais graves, cujo tratamento vai além do uso dos laxativos.

Por que as mulheres são mais afetadas pelo problema?
Dr. Laercio – As mulheres, além das possíveis causas descritas acima, apresentam fatores de risco extras para constipação intestinal. O primeiro deles é a dificuldade que grande parte das mulheres tem em utilizar sanitários fora de casa, retardando o atendimento ao estímulo evacuatório, se possível até chegar em casa, o que reduz, progressivamente, a resposta do reto à presença de fezes no seu interior. Condições específicas das mulheres, como cirurgias pélvicas (p.ex. histerectomia), podem afetar os músculos do assoalho pélvico, causando dificuldades à evacuação. Ademais, condições hormonais específicas das mulheres podem prolongar o tempo de trânsito intestinal. O problema em alguns casos pode ser resolvido com o simples fato de beber água e comer mais fibras, existe algum sinal de quando o problema se torna algo mais grave?

Dr. Laercio – É sempre recomendado iniciar o tratamento da constipação intestinal com a ingestão de fibras e de líquidos, que poderão resolver o problema em boa parte dos pacientes. Isto poderá ter algum efeito nos indivíduos que não usam, habitualmente, quantidades adequadas destes dois ingredientes. Um sinal que pode indicar causas orgânicas mais importantes é a mudança súbita do hábito intestinal, isto é, indivíduos que apresentam um determinado ritmo de evacuação que muda subitamente.

Quais os melhores alimentos para se comer nestas circunstâncias?
Dr. Laercio – A ingestão de alimentos ricos em fibras, sejam eles frutas, verduras ou cereais, pode ser útil na manutenção de um ritmo intestinal normal. O importante é, quando do uso deste tipo de alimentos, que não sejam dispensadas as fibras que ele contém. Por exemplo, a utilização de laranja como fonte de fibras exige a ingestão do bagaço, que é onde estão as fibras.
Existe algum alimento que deve ser evitado?

Dr. Laercio – Não há necessidade de evitar qualquer tipo de alimento. Apenas não se deve utilizar predominantemente alimentos pobres em fibras. Há necessidade de um equilíbrio, de forma a produzir um bolo fecal que estimule a motilidade do intestino.

Muitas pessoas recorrem aos laxantes, quais os perigos da automedicação?
Dr. Laercio – São dois os principais problemas da automedicação: 1) a não definição da causa da constipação, podendo deixar sem diagnóstico etiologias que necessitariam de tratamento específico; 2) o constipado crônico tende, quase sempre, a utilizar medicamentos com efeitos imediatos, que estimulam farmacologicamente a função intestinal, desprezando a utilização de medidas mais fisiológicas, mas que apresentam resposta mais lenta, como a utilização de fibras ou mesmo de substâncias com efeitos osmóticos (que vão atrair água para a luz do intestino). A longo prazo, isto pode piorar a função intestinal.

A prisão de ventre pode ser um prenúncio de doenças mais graves?
Dr. Laercio – Sem dúvida. Principalmente quando a constipação intestinal surge subitamente, em quem até então apresentava função intestinal normal. Esses casos necessitam de investigação cuidadosa, de forma a definir a causa, que pode ser desde o início do uso de um determinado medicamento, até mesmo o surgimento de tumores no intestino, dificultando a passagem das fezes.



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