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Diário da Amazônia

Há 10 anos, a resistente ‘Feira do Sol’

“A vida da gente é uma história, tive uma vida boa e aprendi a crescer e me valorizar”.

Por João Zoghbi Diário da Amazônia
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Publicado: 19/11/2017 às 06h30min

Eliane Borges com a ilustre visita do arquiteto Túlio Souza

“Quem corre cansa, quem anda alcança boneco duro, rouba bandeira…” Obra musical que poucos conhecem, mas muitos que a conheceram na voz do autor Francisco Lázaro o ‘Laio’, sabe do que estou falando, ecoava nos quatro cantos, quando interpretado por ele de maneira solo ou no grupo musical ‘Anjos da Madrugada’. Era como ouvir um hino e ter orgulho dessa terra amada chamada Porto Velho, Rondônia a ‘Fronteira Azul, (…) nosso céu é sempre azul’.

Podemos nos inspirar e comparar nessa maneira de pensar sobre a resistência de um grupo ‘unido’ por uma causa maior, é como podemos ver e admirar muitas vezes de longe, outras vezes colaborando comprando um objeto de arte, artesanato. Esse grupo que através de uma instituição: Aacesa/Associação Artes Cultural e Sustentável da Amazônia, há quase 10 anos, de uma forma ‘heroica’ e inúmeras feiras pela cidade de Porto Velho, pelo Sebrae, nas Universidades e Faculdades, em alguns municípios de Rondônia e Estados Brasileiros, com o apoio incondicional do Programa do Artesanato Brasileiro – PAB em parceria com o governo do Estado/Sejuscel na coordenação da servidora Wellida Sodré e equipe até chegar ao porto próximo do histórico ‘Plano Inclinado’ da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré em frente aos galpões na beira do rio Madeira ganhando enfim, o nome de “Feira do Sol do Rio Madeira”:

Márcia e Maria Karithiana e Ivaldo Cinta Larga no estande

“Nossa, faz tanto tempo, começamos na frente do Palácio Presidente Vargas, depois fomos para a Praça Marechal Rondon, lá nos tiraram à força junto com os camelôs, daí mudamos para a beira do rio, onde passamos por mal bocados, veio um temporal que jogou quase tudo no rio, barracas, artesanato e, foi dessa forma que adentramos no galpão 2 da E. F. M. M. depois de muitos ‘Ofícios’ indo e vindo conseguimos a concessão por tempo ‘indeterminado’, porém todo ano tem uma questão se vamos continuar ou se vamos embora e para onde”, relatou Marlene Marques.

A feira está sempre se renovando com artesanato de primeira linha, agregando novos valores desde o regional ao artesanato local no caso de Raimundo Carlos Bezerra (59) que é funcionário público Técnico em Educação e está produzindo muito: luminárias de PVC, embalagem de papel, cartonagem, bijuterias, garrafas pintadas em pontilhismo e tem o apoio da esposa Marly Rossendy, felizes e realizados com cinco filhos e seis netos: “Estou há 20 anos no ramo do artesanato e sempre sonhei em estar aqui na ‘Feira do Sol’ comercializando meu produto”, diz Carlos.

Antônio Félix, que já esteve como presidente do grupo é um dos mais antigos na feira e continua fazendo às lembranças de artesanato de madeira, bichos de sementes de açaí, filtro dos sonhos com sua esposa Maria de Nazaré, que produz artesanato utilitário de reciclagem em lacre de refrigerante e pintura em guardanapos.

As Irmãs Marlene Marques e Glorinha tem uma vida no artesanato. São fundadoras da feira e estão muito orgulhosas de serem umas das resistentes da ‘Feira do Sol”. Marlene do Cipó, como é conhecida, faz com maestria a arte de tecer o cipó e de fazer política do bom relacionamento para manter o projeto de pé. Seu Geraldo Pinheiro e sua esposa Oneide Araújo se mantêm com muito esmero na arte com a madeira nos banquinhos amazônicos, porta joias, e brinquedos artesanais.

Joanilce Evangelista faz artesanato em madeira, biscuí, ímã de geladeira e crochê está há um ano na feira onde divide nas duas barracas com Mirta Nímia que produz bolsas: “Meu sonho era expor meu produto e ouvir o elogio das pessoas”, diz a artesã Joanilce.

Lili do artesanato, como gosta de divulgar sua marca, hoje, está como Eliane Borges presidente da Aacesa, juntamente com sua diretoria: vice-presidente Marlene Marques, secretária Vânia Menezes e Glorinha como tesoureira. “É um time comprometido com as ações da ‘Feira do Sol do Madeira’ e com os projetos que venham engrandecer a nossa associação como: manter os espaços conquistados, a permanência da estrutura da feira aqui no galpão da Estrada de Ferro. Compramos até uma bomba d’água para retirar a água da chuva de dentro do galpão, o grupo se envolve e divide quando necessário. Agora mesmo essa semana, já iniciamos a decoração de Natal com os amigos da Estrada de Ferro, que nos ajudaram a colocar o ‘trenzinho’ montar e decorar a árvore de Natal para receber bem as pessoas que admiram nosso trabalho e os turistas que sempre nos visitam e levam de lembrança um pouco de nossa terra. Esperamos de nossas autoridades municipais e governamentais que além de parceiros nos ajudem na renovação e conservação do espaço e na estrutura da feira que já se tornou uma referência turística e cultural não só da capital, mas de Rondônia”, esperançosa e otimista relatou a presidente Lili.

Maria Divina trabalha divinamente com design de biojoias e artefato de crochê: “Há mais de 20 anos trabalho com o artesanato e cinco de ‘Feira do Sol’. Tenho duas filhas Tainá e Suelen mãe de meu neto, nossa vida é a feira estou muito feliz aqui”, disse Divina.

Natali Maciel faz chaveiros, representa seu pai Antônio Hugo que também produz artefatos de decoração de madeira em marchetaria.

Maria Beleza, como é conhecida na ‘Feira do Sol’ ou simplesmente Maria Karithiana, é a mais conhecida no meio do artesanato indígena, vem acompanhado a feira desde o início juntamente com o seu grupo trazendo uma variação das etnias Karithiana, Gaviões, Parintintins Cinta-Larga: “Muito bom, a gente vem vender nosso artesanato, faz muito tempo aqui na ‘Feira do Sol’, diz Maria.

Dulce Gonçalves Braga é presidente da ‘Cootama’, transformando pessoas, há dois anos na feira e traz a diversidade do artesanato reciclável, objetos feito de pneus: poltronas, jogos de varanda, revisteiros, mesas, jarros e, sacolas e esteiras feito de lona de ‘banner’. “Retiramos uma grande parte desse material que polui o planeta e transformamos em artesanato utilitário, pena que falta mais consciência das pessoas em perceber a importância desse trabalho social”, diz Dulce.

Sei que temos muitos assuntos à tratar sobre esse trabalho que é realizado com muita luta, nota-se que há muito descaso pelo poder público falta de um projeto de ‘políticas públicas’ consistente e de comprometimento por quem faz. Não me canso de admirar esses guerreiros dessa resistente “Feira do Sol”.



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