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Diário da Amazônia

Maus-tratos a idosos são frequentes

Casa do Ancião abriga idosos em situação de abandono ou maus-tratos.

Por Assessoria
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Publicado: 05/11/2017 às 05h10min

Idosos da Casa do Ancião têm idade entre 60 e 100 anos, por isso o cuidado especial

Todos os dias o telefone da Casa São Vicente de Paulo recebe inúmeras ligações. Nos mais agitados são mais de 20, e estes episódios são mais recorrentes nos meses de julho e janeiro, época de férias. Estas chamadas poderiam ser de familiares dos 30 idosos que residem lá ou de outras pessoas que gostariam de visitá-los, por exemplo, mas essa é uma realidade ainda muito distante. Os telefonemas, na grande maioria, levam denúncias de maus-tratos a idosos (pessoas com idade igual ou maior a 60 anos, segundo o Estatuto do Idoso), ou relatos de abandono. São informações, pedidos de ajuda ou de resgate que acendem um alerta: absolutamente todos que estão lá têm um histórico de maus-tratos.

No estatuto, instituído pela Lei Nº 10.741 de 1º de outubro de 2003, o Art. 98 do Capítulo III (Dos crimes em Espécie), “abandonar idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado” pode implicar em pena de detenção de seis meses a três anos de prisão e multa.

Um destes casos é o seu Lázaro, de 103 anos. Ele chegou no dia 19 de outubro após uma ligação anônima com pedido de ajuda. A equipe da Casa do Ancião foi até o local e encontrou um cenário triste e desumano. “Ele estava sozinho em um apartamento minusculo e sem nada para se alimentar, com uma garrafa com água pela metade. Sem roupas, ele estava deitado em um colchão pequeno, sujo e nos contou que o filho o visitava raramente, apesar de morar um apartamento bem ao lado de onde ele estava”, explica Rose Imperiano, psicóloga da Casa.

Apesar dos mais de 100 anos, Lázaro conta com lucidez que não se alimentar era uma imposição feita pelo filho. O trauma, inclusive, é carregado até hoje, mesmo tendo sido resgatado. “Não quero dar trabalho, não posso dar trabalho”, diz. O caso é investigado pelo Ministério Público do Estado.

Atuação

Quando há a denúncia, uma psicóloga e uma assistente social vão até o local para apurar. Caso a informação seja verdadeira e haja vagas para abrigar o idoso, o resgate é feito de forma passiva ou não. “Nós não temos o objetivo de romper o vínculo familiar, o idoso precisa do contato com os parentes. Então o primeiro passo é conversar e mostrar que levá-lo é a melhor decisão, a força policial vem em último caso”, explica a psicóloga.

Após o resgate, a situação é repassada ao MP do Estado, que fará a investigação. Ione Braga, diretora da Casa do Ancião, diz ainda que mesmo com tantas denúncias, é importante levar em consideração se os familiares agem de má-fé ou se não sabem cuidar do idoso, por isso esse trabalho é minucioso. “Muitos envelhecem e criam hábitos diferentes, ficam teimosos e não aceitam a rotina da família, que por sinal pode não saber lidar com isso muito bem. Então a gente chama aqui, conversa e vê se há as más intenções. Caso haja, mostramos o que é feito com ajuda da justiça; se não houver, nosso objetivo sempre será manter o vínculo”, resume.

Policlínica amplia serviço

Equipes do Programa de Saúde do Idoso na Policlínica Oswaldo Cruz, coordenadas pelo médico geriatra Christopher Rosa, atendem diariamente pacientes crônicos [hipertensos, diabéticos, portadores de câncer de próstata ou com sinais de demência]. “Até 2050 o mundo terá 131,5 milhões de pessoas convivendo com a demência em países de baixa e média renda, e até lá, um quinto do planeta será formado por idosos”, ele alerta .

A cada semana a POC elabora um ou dois diagnósticos novos de demência e depressão. Dos 519 mil moradores em Porto Velho, 30 mil (5.78%) são idosos. Doenças crônicas controladas pelas equipes multidisciplinar e interdisciplinar aparecem em pessoas na faixa de 75 a 79 anos.

A POC trabalha em consonância com a Organização Mundial de Saúde, que classifica como idosa a pessoa acima dos 60 anos. O consultório C-30 e outros da Ala Cupuaçu recebem a clientela durante o expediente das 7h às 19h. Pelo menos 20 por dia, até 150 por semana em trabalho preventivo.

Auxílio em cuidados médicos

Na casa, os idosos têm acesso a seis refeições por dia, quartos adaptados, medicamentos e consultas prioritárias quando há a necessidade. Eventualmente são realizados passeios, dentro das limitações de cada um, para que haja uma interação nos ambientes sociais. “Eles precisam desse momento. É um trabalho diário, mas que realiza cada um de nós”, finaliza a diretora Ione Braga.

Além disso, os quase 30 idosos, na idade entre 60 a 100 anos, que hoje residem na Casa do Ancião, de formas diferentes, precisam de vários cuidados. Destes, oito tem um quadro de saúde delicado e agravado pela diabetes, o que dificulta, por exemplo, a cicatrização de um pequeno machucado.

“Estes são detalhes que cuidamos diariamente e que se para as pessoas mais jovens parece ser simples, para eles torna-se algo delicado, que precisa de muita atenção”, explica Ione Braga.

As dificuldades deram origem a uma parceria na capacitação em tratamento avançado de feridas. Ao todo, 16 profissionais aprenderam técnicas que irão colaborar com a saúde dos idosos.

“Nós passamos para a equipe o que temos de mais avançado no tratamento de feridas, como a gente classifica as lesões e mostramos as novas coberturas usadas no tratamento das lesões”, explica o enfermeiro e consultor hospitalar Mizael Batista.

Ele também explica que as lesões podem ser causadas por diversos fatores, principalmente em quem tem idade mais avançada.

“A mobilidade difícil, o tempo deitado no leito faz com que este idoso acabe não conseguindo se locomover, o que prejudica a circulação e faz com que ele desenvolva lesões por pressão”, resumiu.

O treinamento foi realizado no dia 23 de outubro, e a diretora garante que haverá muitas outras. “Estamos nos preparando para trazer os cursos até a Casa, já que nossos servidores passam bastante tempo aqui”, finalizou Ione.

 



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