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RONDÔNIA

Rondônia está ‘ardendo em chamas’

O índice de umidade do ar no Estado oscila entre 23% e 25% e causa preocupação.

Por Daniela Castelo Branco Diário da Amazônia
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Publicado: 11/08/2017 às 05h00min

As queimadas predominam em praticamente todo o Estado e as consequências são devastadoras sob todos os aspectos

A estiagem amazônica já é conhecida por ser bem severa. Em Rondônia, o clima é o mais seco do Brasil na atualidade. Além da estiagem severa, um grave problema, de ordem já histórica tem predominado: as queimadas indiscriminadas e descontroladas. Atualmente, Rondônia respira só fumaça. Em qualquer lugar pode-se ver focos de queimadas: à beira das estradas, nas residências, nas propriedades rurais. A situação está tão grave que os valores de umidade relativa do ar registrados no estado são os mais baixos de todo o Brasil, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia de Brasília (Inmet).

As normas da Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelecem que valores de umidade entre 20% e 30% são considerados como Estado de Atenção. Entre 12% e 20% como Estado de Alerta e abaixo de 12% como Estado de Emergência. Nos últimos quatro dias, várias cidades sentiram a secura com umidade abaixo de 12%, valor considerado como Estado de Emergência pela OMS. Rondônia hoje registra índices de umidade relativa do ar que oscilam de 23% a 25%, com tendência a diminuir, pois o ponto culminante da estiagem, de acordo com a previsão meteorológica, vai de 20 de julho a 25 de setembro.

Unidades de saúde ficam lotadas

Aliado a essa situação, a conjugação de umidade baixa, calor acima de 35ºC e a densa fumaça das queimadas, que tem grande concentração de Monóxido de Carbono (CO) na atmosfera, é extremamente prejudicial e acarreta mais riscos ao ser humano. A consequência de todos esses problemas reflete diretamente na qualidade de vida da população, além de causar prejuízos financeiros. Impacto direto disso pode ser constatado nas Unidades de Pronto Atendimento (Upas) e hospitais de Porto Velho que estão lotados de pacientes com problemas respiratórios, agravamento de rinites, micoses, viroses, doenças de pele e olhos em geral. Há casos ainda mais graves de pessoas com paradas cardiorrespiratórias, por conta da dificuldade de respiração e inchaço pulmonar, resultado da baixa umidade do ar.

As queimadas também causam sérios riscos quanto à visibilidade, já que a fumaça se espalha no espaço e pode acarretar tanto acidentes terrestres quanto aéreos. As navegações são diretamente prejudicadas por essas ações criminosas. Além da seca do rio Madeira, a precária visibilidade causada pela fumaça dificulta os transportes fluviais. Além de todos esses transtornos, existe ainda o fator psicológico: a baixa umidade do ar, calor excessivo aliado à inalação de monóxido de carbono das queimadas durante um tempo prolongado, torna a vida de qualquer ser humano insuportável.

Dados divulgados pela Subsecretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Porto Velho (Sema), apontam Porto Velho como uma das cidades com maior foco de incêndios do País. A cada ano, os focos têm aumentado. Só no primeiro semestre de 2015 houve aumento de 33% em relação ao ano anterior. Para tentar amenizar esses índices tão elevados, pois de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Rondônia aparece em 4º lugar como o Estado que apresentou mais focos de incêndio no País, somente precedido pelo Pará que lidera o ranking, Manaus que vem em segundo e Mato Grosso, o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo-Ibama) está realizando um trabalho junto com a Sema e Corpo de Bombeiros para prestar atendimentos no combate aos focos de incêndio.

Segundo a coordenadora estadual do Prevfogo, Noberta Benarrosh, no mês de julho, houve 1.278 focos registrados no Estado todo, sendo 613 só em Porto Velho. Já na primeira semana de agosto foram registrados 334 focos de incêndios na capital, evidenciando que até o fim da estiagem esses números devem aumentar ainda mais. “É preciso conscientizar as pessoas sobre as consequências das queimadas que, além de acarretarem danos à saúde, afetam o meio ambiente todo. O ideal é que as pessoas não queimem, mas sim usem o rastelo, pois a folha seca é um ótimo adubo para as plantas. A situação se agrava no Joana D’arc, onde as pessoas estão botando fogo em tudo”, disse a coordenadora, que explicou ainda que a Prevfogo realiza o combate aos focos de incêndio mais nas áreas rurais, os considerados incêndios florestais.

Focos na fronteira agrícola

O capitão Iranildo Dias, do Corpo de Bombeiros, disse que é importante as unidades de combate trabalharem juntas e unirem forças. Segundo ele, a prefeitura está dando um grande apoio no combate aos incêndios, o que fez com que o atendimento aumentasse de uma média de 14 para 23 os atendimentos diários. De acordo com o capitão, os maiores focos de incêndio estão localizados do Vale do Jamari para a cidade, totalizando cerca de 93% dos focos de incêndios por um contexto histórico. Dias explica que como a fronteira agrícola está avançando do Vale do Jamari para Porto Velho, localidades como Cerejeiras, Vilhena e Colorado, já tiveram a retirada da mata virgem e agora estão fazendo o processo inverso: o reflorestamento.

Na terça-feira (8), o Corpo de Bombeiros atendeu 57 chamadas de focos de incêndio e, segundo Dias, o período crítico só vai terminar depois do dia 25 de setembro. “É preciso fazer um planejamento antecipado. Esse planejamento vai passar pelos órgãos que compõem a defesa do meio ambiente para se tentar mudar esse quadro. Além disso, é necessário ter uma campanha, ir até o produtor rural, orientá-lo para que não queime. Também é importante conscientizar as crianças para que eduquem aos pais. Ir às faculdades para que os alunos dos cursos de áreas como agronomia, zootecnia e engenharia florestal trabalhem nessa força-tarefa de educação ambiental”, destacou o capitão Dias. Em Porto Velho, a prefeitura está notificando todas as ações criminosas e aplicando multas em quem for pego realizando o crime, a fim de combater com os altos índices de incêndio da capital.



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