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Diário da Amazônia

Silvio Persivo Cunha Doutor na formação do estado de RO

Silvio Persivo se tornou conhecido, por sempre estar sendo convocado pela mídia de um modo geral, para opinar sobre a economia do Estado e..

Por Sílvio Santos Diário da Amazônia
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Publicado: 24/12/2017 às 06h30min

Silvio Persivo se tornou conhecido, por sempre estar sendo convocado pela mídia de um modo geral, para opinar sobre a economia do Estado e do Brasil, porém, na entrevista que você vai ler, passamos a conhecer o cara que ajudou a planejar o estado de Rondônia e saiu por aí, coordenando a estruturação dos Nuares que mais tarde, se transformaram em municípios.

“Em minha opinião o grande governador de Rondônia foi Humberto da Silva Guedes”. Nossa conversa aconteceu segunda-feira passada, 18, antes dele embarcar de férias.

Recomendamos também nossos leitores, a curtir a entrevista do Silvio Persivo na TV Opinião (site gentedeopiniao.com.br)

Zk – Vamos começar pela sua origem?
Silvio Persivo – Nasci no centro de Fortaleza (CE), no dia 8 de março de 1950. Na verdade sou o primeiro filho do segundo casamento do meu pai Sebastião Persivo. Minha mãe é Maria Celeste.

Zk – Você estava comentando que seu pai inaugurou o primeiro supermercado do Ceará. Como surgiu a ideia?
Silvio Persivo – A verdade é que ele foi aos Estados Unidos viu e ficou fascinado. Ao regressar reuniu um grupo de empresários pra criar o supermercado Sino que iria ser o primeiro, mas, no meio do negócio o deixaram de lado. Então ele se associou com outras pessoas e então surgiu o supermercado Aldeota que foi o primeiro do Ceará.

Zk – Como é a história de você ter vindo a Porto Velho no inicio dos anos 1970, estudar a possibilidade da instalação de um Banco?
Silvio Persivo – Isso foi em 1974 e eu nem sonhava em vir pra cá. Na época se falava que iam liberar a abertura de agências de bancos estrangeiros. Na realidade me pegaram de supetão e me botaram dentro do avião, porque ninguém queria vir pro Norte. Era pro Citibank e terminou que não saiu agência nenhuma, eles tinham mais expectativa do que realidade.

Zk – E a história do abastecimento do avião?
Silvio Persivo – O comandante não conhecia essa região e vinha abastecendo com cartão de crédito e aqui ainda não existia esse tipo de serviço. Tivemos que ficar no Porto Velho Hotel até resolver o problema do abastecimento. Jamais pensava que um dia viria morar aqui.

Zk – Por que veio morar aqui?
Silvio Persivo – Um amigo de Fortaleza, o Marcelino Pontes Moreira que era adjunto, na verdade ainda não existia a figura do adjunto. Formalmente havia o secretário de governo que era o Luiz César Guedes. Quando cheguei o governador era Humberto da Silva Guedes. O Luiz César é um cérebro brilhante. Havia uma pessoa daqui, de Guajará-Mirim, o Jorge Elage que considero um gênio, hoje está mais calmo, ele se interessava por tudo, mexia com tudo, entendia de tudo. Primeiro minha vinda pra cá seria como contratado pelo Ministério do Interior para atuar no grupo chamado Pólos Urbanos e acabei contratado pelo governo do Território de Rondônia. Na época, estava se criando as secretarias de governo e todos foram instaladas no Palácio das Secretarias que funcionava onde hoje é a Unir/Centro. Comecei a trabalhar no palácio Presidente Vargas porque o secretário de Governo virou secretário de Planejamento.

Zk – A Seplan foi a primeira secretaria a funcionar no que ficou conhecido como Esplanada das Secretarias, no bairro Pedrinhas?
Silvio Persivo – O primeiro prédio construído ali era para abrigar a Seplan e depois transformá-lo em escola. O projeto do governador Guedes era construir a estrutura de governo, inclusive, o Palácio, na beira do rio Madeira aproveitando a estrutura da Madeira-Mamoré e abrindo o rio para a cidade. Não sei aonde foi parar esse projeto. Veio o governador Jorge Teixeira e reproduziu aquele prédio da Seplan, sem melhorar o projeto original que tinha problemas.

Zk – Quem fazia parte da equipe que começou a montar a estrutura do Estado ainda no governo de Humberto Guedes?
Silvio Persivo – Eu, Maurílio Galvão, Cláudio Damasceno, José Aldenor Neves e mais um monte de gente. Na realidade, o Guedes foi quem começou a estruturar o Estado. Inclusive, o Guedes chegou a criar os cinco municípios do eixo da BR-364.

Zk – Quais são esses municípios?
Silvio Persivo – Ariquemes, Ji-Parana, Cacoal, Pimenta Bueno e Vilhena. Antes disso, só existia Porto Velho que era o maior município do mundo e Guajará-Mirim, que também não era pequeno. Particularmente eu considero o Guedes o grande governador de Rondônia, pois, ele realmente, planejou o estado e o Teixeira implantou. O Teixeira era um fazedor, ele implantou de qualquer jeito, não queria nem saber.

Zk – E a história que o Guedes não deixou o BNH entrar em Porto Velho?
Silvio Persivo – Até o governo Guedes só havia o Ipase Novo que foi feito na época do Odacir Soares enquanto prefeito da cidade. O Guedes dizia que não iria deixar colocar poleiro aqui em Porto Velho. Ele tinha a visão de que o Estado devia crescer de forma distribuída e harmônica e assim, contratou gente para estruturar o Estado, por exemplo, até hoje na cidade de Porto Velho o sistema viário é uma adaptação do que foi feito pelo Zimbres que foi um urbanista que tinha mestrado na Inglaterra esteve aqui em 1978. Então, com o Guedes aconteceu a primeira grande transformação que depois iria ser inaugurada pelo Teixeira. Praticamente quem fez a Usina de Samuel, o Hospital de Base, a Rodoviária, o Mercado Central foi o Guedes.

Zk – Em sua opinião o que o Teixeira planejou e construiu em Porto Velho?
Silvio Persivo – O Ginásio Claudio Coutinho e o primeiro prédio do Tribunal de Contas, porque a reprodução daquela estrutura que ficou conhecida como Esplanada das Secretarias, foi uma tristeza, não resistiu ao tempo. A grande virtude do coronel Teixeira é que ele não era um homem de muito pensamento e nem de futuro, ele era de fazer, ele chegou e disse vou fazer e fez. Na verdade, os municípios, todos eles, estavam programados pelo Guedes que a época trouxe a UnB, o Silvio Savaia que era da USP e trouxe uma série de pessoas pra pensar o Estado e também contou com uma ajuda forte do capitão Silvio Gonçalves de Farias.

Zkl – Sobre o capitão Silvio?
Silvio Persivo – Ele fez inicialmente os sete projetos, ou seja, os PAD’s e os PIC’S e isso deu uma consolidação. Ele acentou praticamente 120 mil pequenos produtores, isso deu ao Estado, uma distribuição espacial muito bem feita. Veja bem, aqui em Rondônia não houve reforma agrária, houve colonização.

Zk – Você também fez parte da comissão que fez o estudo para a criação de vários municípios. Como foi que aconteceu isso?
Silvio Persivo – Substitui o Jorge Elage na Codram – Coordenação de Desenvolvimento e Articulação dos Municípios e junto com uma equipe de engenheiros e arquitetos, fui responsável pela abertura de ruas e planejamento de cidades como Ariquemes, Ji Paraná, Cacoal, Pimenta Bueno, Rolim de Moura, Vilhena, Colorado do Oeste e Cerejeiras.

Zk – Quem foi Milton Santos?
Silvio Persivo – Foi grande geógrafo brasileiro (falecido), que foi contratado pelo Guedes para pensar o Etado. Na época estava acontecendo grande evasão dos pequenos proprietários, para evitar isso, ele projetou o que se chamava de Núcleos Urbanos de Apoio Rural – Nuar, que eram pequenas cidades com estrutura suficiente para que o agricultor não saísse para os grandes centros urbanos.

Zk – Por que vocês abriram as ruas de Rolim de Moura com aquela largura toda?
Silvio Persivo – Rolim de Moura era um dos locais programados para ter um Nuar. Na época foi contratado uma pessoa que tinha máquinas que era o Valter Longo, que era de Vilhena, para abrir as ruas. Eu tinha muito pouco tempo de Rondônia e fui substituir o Jorge Elage na Codram. Quando chegamos onde hoje é Rolim tiramos umas 14 pessoas com malária. O povo vivia à beira de um riacho e eu disse, não dá pra começar uma cidade aqui, a gente tem que tirar esse povo de perto desse córrego se não vai morrer todo mundo de malária. Alguém havia me dito que o mosquito da malária o anofelina só voava 70 metros e morria. Falei com o Benedito que era o engenheiro, pra ele projetar as ruas, ele me disse que não sabia o que fazer e então eu disse que iria decidir. Chamei o Valter Longo e ordenei ele abrir as ruas com 100 metros de largura. Ora, se o mosquito só voa 70 metros e se as ruas forem de 100 em 100 metros o mosquito não chegaria até onde estávamos. Tudo ilusão. Saí de lá pensando, isso nunca vai dar certo, um visinho não vai poder dar adeus pro outro. Rapaz, após uns três meses, voltei e Rolim já estava uma cidade, já devia ter umas 12/15 mil pessoas, o interessante foi que eles continuarem abrindo ruas daquela largura.

Zk – Pra finalizar e o governador Jorge Teixeira?
Silvio Persivo – Jorge Teixeira foi um presidente de Estado, acho que nenhum governador teve o poder que Jorge Teixeira teve, essa é a grande realidade. Ele fazia chover.



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