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RONDÔNIA

Educação é prioridade para geração Y

“Solidariedade e preservação da natureza são os princípios que dirigem a vida do meu povo e dentro da nossa aldeia isso é praticado..

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Publicado: 09/08/2014 às 13h00min | Atualizado 28/04/2015 às 08h34min

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Jovens índios investem na educação superior para contribuir com os projetos(Foto: Roni Carvalho/Diário da Amazônia)

“Solidariedade e preservação da natureza são os princípios que dirigem a vida do meu povo e dentro da nossa aldeia isso é praticado por todos”. Essa declaração é da índia Walelasoetxeige Bandeira Surui, 17 anos, que ingressa na Universidade Federal de Rondônia para cursar Direito, este semestre. A índia Walela pertence à tribo dos Suruí que atualmente é constituída por 1,4 mil pessoas que se autodenominam de Paiter, cuja tradução é Gente de Verdade.

A índia Walela disse que pretende ser advogada para contribuir profissionalmente com os projetos sociais do povo indígena. Para ela, “o estudo é muito importante; precisamos estudar não só pensando em bens materiais, mas na realização dos sonhos; quero ajudar meu povo a conhecer mais seus direitos e seus deveres. Não é fácil ser índia; ainda há muita discriminação. Como índios, precisamos conhecer mais para poder conviver em condição de igualdade. O conhecimento é algo para toda a vida, ninguém tira da gente”, afirma. Segundo a futura advogada que – apesar da pouca idade, está integrada às atividades desenvolvidas em sua aldeia – no início de setembro será lançado um livro intitulado de Códigos e Normas Paiter Suruí, patenteado como sendo o primeiro código, no mundo, que contém as diretrizes e os princípios de uma nação indígena.

NOVA GERAÇÃO DE ÍNDIOS

Para Diogo Cinta-Larga (23 anos) – acadêmico do curso de Ciências Biológicas em uma faculdade local -, os índios brasileiros conseguiram conquistar alguns espaços na sociedade, porque decidiram buscar o conhecimento científico. Atualmente, “muitos índios, como eu e a Walelasoetxeige, querem ter uma profissão. Quero me formar e ser bem-sucedido; desejo ajudar o meu povo na preservação da nossa cultura. Nós precisamos conquistar muitas coisas. O Cinta-Larga é um povo pequeno – em torno de 1,6 mil índios; morreu muita gente com os conflitos e também por causa das doenças; lá na aldeia precisamos de assistência médica, principalmente para as crianças e os idosos que sofrem de diabete e pressão alta; a educação também é precária”, relata.

Diogo Cinta-Larga e Walelasoetxeige Paiter Suruí representam uma nova geração de índios que desejam realização profissional. Mas, além disso, “queremos que as pessoas aqui – do nosso Estado, de nossa cidade – olhem para o índio e veja nele – em nós – o que somos. Somos apenas seres humanos”, conclui Walela.

DIA INTERNACIONAL DOS POVOS INDÍGENAS

Hoje, 9 de agosto, comemora-se o Dia Internacional dos Povos Indígenas e a data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1995, através de decreto. Para muitos estudiosos da cultura aborígene – no Brasil e no mundo – este fato representa mais que uma data comemorativa. É uma celebração e o reconhecimento dos direitos de povos que sofreram abusos e perseguição ao longo da história da humanidade.
Nesta data, portanto, vale ressaltar que o estado de Rondônia possui uma das mais significativas populações aborígenes do País. São cerca de 11 mil pessoas, distribuídas em 23 terras demarcadas, que representam um total de 20,82% do território rondoniense (GTA/2008), abrigando etnias como os Arara, Gavião, Cinta-Larga, Karitiana, Tupari, Sabanê, Aikanã, Macurap, Kaxarari, entre outros. Além dos grupos urbanos: Cassupá, Puruborá e os indígenas livres ou isolados.

TRABALHOS INÉDITOS  DOS ÍNDIOS

Para Ivaneide Bandeira, coordenadora de projetos da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, o código “estabelece princípios, diretrizes, normas, direitos e deveres do povo Suruí, garantindo qualidade de vida, sustentabilidade e organização social. Os princípios do parlamento Paiter Suruí se fundamentam nos valores básicos que direcionam todas as nações que dizem respeito à vida da comunidade e utilização dos recursos naturais da Terra Indígena Sete de Setembro”, informa.

O antropólogo Sérgio Cruz – que acompanha os projetos da Kanindé há 18 anos – considera que “a associação produz trabalhos científicos de relevância para o Estado e para o País; são trabalhos inéditos que possibilitam um conhecimento mais amplo dos povos indígenas da região amazônica. O código dos Suruís e o etnozoneamento são projetos singulares, ninguém tinha feito algo semelhante”, informa.

O antropólogo explica que o etnozoneamento é o primeiro diagnóstico completo realizado em uma área indígena. “Trata-se de uma metodologia que foi desenvolvida por uma equipe multidisciplinar da Kanindé e engloba estudos sobre a cultura dos povos aborígenes de Rondônia. Além disso, “são feitas pesquisas de geologia, biologia (fauna e flora), hidrografia; quase todas as especificações científicas têm, ao menos, um técnico fazendo o processamento das informações de cada área. Somando todas essas informações temos, portanto, o resultado final, que chamamos de etnozoneamento. Isto foi realizado no Estado, e se tornou uma referência para a Funai, em nível nacional”, esclarece.

Por Edilene Santiago

 



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