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Diário da Amazônia

Como a família real pretende derrubar Temer para voltar ao poder

A restauração da monarquia, porém, deixou de ser apenas uma ideia abstrata e um desejo da família real, que ainda vive em São Paulo.

Por Assessoria
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Publicado: 17/09/2017 às 05h00min | Atualizado 18/09/2017 às 15h51min

O governo monárquico brasileiro acabou há quase 128 anos por meio de um complexo processo conduzido pelo marechal Deodoro da Fonseca, mas a opção pela realeza – e a própria família real – não foi extinta. Ao contrário, ela tem se colocado como uma das opções atuais à crise política que o país enfrenta desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em agosto do ano passado.

A restauração da monarquia, porém, deixou de ser apenas uma ideia abstrata e um desejo da família real, que ainda vive em São Paulo, para se tornar uma proposta em tramitação no Senado. Colocada na pauta dos congressistas em junho deste ano, ela prevê a realização de um referendo nacional pelo retorno de um governo monárquico parlamentarista ao Brasil, aos moldes britânicos.

O documento foi anexado na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado, mas ainda não recebeu a designação de um relator. Antes dos trâmites dentro do Congresso, ele se tornou uma sugestão legislativa em votação no site do Parlamento, onde recebeu, até o final de agosto, 29 mil votos positivos.

“Chama a atenção a maneira como a ordem dos processos não se inverteu: quando a monarquia foi derrubada, houve um processo, de certa forma, violento. Alguns até hoje chamam de ‘golpe’ do exército por causa disso. As tentativas reais de retornar ao poder, no entanto, acontecem por meio dos mecanismos institucionais da República”, explica o cientista político Samuel Mendes, da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

No último domingo de agosto, membros da família real também cumpriram seus papéis morais contra o modelo político brasileiro: foram à Avenida Paulista, em São Paulo, protestar contra a corrupção e o governo de Michel Temer. No caso da metrópole paulista, o príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança e seu filho, Dom Maximilian, de 5 anos, foram cortejados pelo público.

Cidades como Brasília, Florianópolis e Rio de Janeiro também registraram protestos em que alguns manifestantes empunhavam a bandeira do Império brasileiro. “A República tem se mostrado corrupta e corruptora; a roubalheira e a desmoralização já se espalharam e se fixaram por todas as instituições republicanas, de modo que não há mais salvação para o atual regime”, publicou a página da Casa Real.

Recentemente, Luiz Philippe alertou, em entrevista a um veículo da imprensa dos Estados Unidos, sobre um dos males da Constituição republicana brasileira: sua flexibilidade. “A facilidade com que se altera nossa Constituição deveria preocupar qualquer brasileiro interessado em um país robusto e uma sociedade próspera. Para isso precisamos de fundamentos, de pilares. Mais urgente do que qualquer reforma em Brasília é uma reforma de princípios.”

O imperador brasileiro

Se o marechal Deodoro da Fonseca não tivesse saído do seu leito de enfermidade na noite de 15 de novembro de 1889 para proclamar a República brasileira, o imperador do país hoje seria D. Luiz de Orleans e Bragança, de 78 anos. Avesso ao público, ele geralmente deixa o papel de aparecer ao seu irmão Bertrand, de 75. Ambos moram em uma casa alugada na região do Pacaembu, em São Paulo.

Há quatro anos, o jornalista Marcelo Duarte entrevistou o seu colega Laurentino Gomes sobre como o Brasil seria caso permanecesse um império. Entre as várias abstrações, ele respondeu que possivelmente o país teria uma postura mais ambiciosa em relação aos vizinhos do continente e se aproximaria mais de outras monarquias, como a Espanha e a Inglaterra.

Ele também revelou que, desde a época imperial, o Brasil tinha planos de transferir a sua capital do Rio de Janeiro para a região central, como um símbolo de integração entre todos os estados. Ou seja: Brasília já estava no horizonte muito antes da sua idealização, nos anos 1950, pelo presidente Juscelino Kubitscheck.

“Esse projeto já era discutido no governo do Marquês de Pombal, em meados do século 18, quando o Brasil ainda era colônia de Portugal. Também foi defendido por José Bonifácio de Andrada e Silva, o ‘Patriarca da Independência’. Bonifácio achava que a nova capital deveria se localizar na região do Triângulo Mineiro, onde hoje estão as cidades de Uberaba e Uberlândia. Segundo ele, mudar a capital seria uma forma de estimular a integração e a comunicação entre as diversas regiões brasileiras, até então isoladas e até rivais entre si”, afirmou à época.



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