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Diário da Amazônia

Empresas pretendem retomar revelação de fotos em papel

Serviço volta a crescer no Brasil em paralelo ao crescimento de smartphones equipados com câmera

Por Assessoria
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Publicado: 09/10/2017 às 16h07min | Atualizado 10/10/2017 às 16h17min

Mesmo durante as fases recentes das câmeras digitais e dos smartphones, a artista plástica Kátia Santana não deixou de lado a revelação de fotos. Enquanto as dificuldades de encontrar lugares que ainda prestavam o serviço cresciam, ela se decidia ainda mais que o costume de montar álbuns fotográficos e reunir a família para vê-los não poderia acabar. “É remar contra a maré”, conta ela.

Em 2015, o jornal estadunidense New York Times publicou uma reportagem se perguntando como a Kodak, outrora responsável por quase todo o mercado fotográfico dos Estados Unidos e de boa parte do mundo, ainda sobrevivia.

A empresa perdeu 139 dos 200 edifícios que possuía em seu parque industrial nos EUA, assim como milhares de funcionários até a declaração de falência, em 2012. Hoje, depois de um longo processo de recuperação judicial, a Kodak vive em um mercado pequeno do nicho fotográfico profissional.

Outra grande empresa dedicada ao mercado fotográfico era a Fotóptica, fundada no início do século 20, quando as câmeras começavam a se expandir para um público maior. No Brasil, ela concorreu com a Kodak por décadas pelas revelações de imagens dos brasileiros. Neste ano, porém, anunciou sua saída total do mercado para atuar apenas no ramo de ótica.

“Fui percebendo que os lugares onde meus pais revelavam fotos nos anos 1980 e eu mesma ia procurar o serviço nos anos 1990 estavam fechando. Sobraram pouquíssimos locais onde se podia revelar imagens mesmo em uma cidade enorme como São Paulo”, conta Kátia.

“Para completar, nos poucos lugares em que ainda havia algum tipo de revelação, não era o mesmo serviço: era ‘impressão’”, completa.

“Contra a maré”

Em janeiro de 2017, o governo divulgou que existiam 243 milhões de linhas telefônicas no Brasil, número que dá uma ideia do volume de aparelhos celulares pelo país. A imensa maioria deles aparelhada com câmeras fotográficas.

A dimensão da mudança do consumo fotográfico também pode ser vista no crescimento das redes sociais, como o Facebook e o Instagram. Enquanto a plataforma de Mark Zuckerberg tem uma média de 350 milhões de fotos postadas por dia no mundo, o Instagram tem, só no Brasil, 35 milhões de usuários ativos – ou seja, que publicam suas imagens regularmente. Toda essa produção fotográfica, imagina-se, está dedicada ao mundo virtual.

“A fotografia se tornou um fenômeno de reprodução de massa no século 19. A revolução digital só faz parte desse processo, é uma tendência histórica”, diz o artista e professor de produção fotográfica Elinaldo Meira.

Remando contra a maré (mas nem tanto), algumas empresas começaram recentemente a tentar retomar o velho hábito de revelar fotos. As estratégias para conquistar novamente um mercado acostumado com publicações em redes sociais e vários cliques de uma mesma paisagem rodeiam a importância das lembranças.

“A fotografia não deixou de ser a eternização de um momento. Quando você fotografa algo, é porque quer guardar aquela experiência. O que está acontecendo hoje, na era dos celulares, é que esses momentos ficam perdidos na nuvem, na memória do celular. Portanto, nosso trabalho é relembrar a importância não somente de fotografar, mas de reviver o momento outra vez, de rememorar aquilo que foi vivido”, conta Anik Strimber, diretora da Phooto.

A empresa, assim como outras do setor, oferece serviços de revelação fotográficas pela internet, em que o cliente recebe as imagens em casa. Algumas delas chegam a disponibilizar entregas horas depois da seleção das fotos na internet. O público, como não poderia deixar de ser, é primordialmente formado por pessoas acima dos 25 anos, apesar do crescimento gradual de jovens.

“Existem cada vez mais pessoas tirando fotos de tudo, mas também há um movimento crescente de jovens que querem revelar as fotos por causa dos pais, que ainda viveram na época em que era um serviço comum”, diz Anik.

“Na era dos celulares, está crescendo o interesse por colocar isso no papel. As pessoas estão voltando a revelar suas imagens”, completa ela.

É o caso de Kátia Santana: antes uma das pessoas que andavam pela cidade em busca de lugares para revelar suas fotos, hoje ela é referência para as amigas artistas que, em meio aos encontros em sua casa, são recolocadas diante de álbuns fotográficos. “Elas ficam enlouquecidas. A moda definitivamente está voltando”, finaliza.



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