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RONDÔNIA

Morador luta por resgate histórico

Prestes a completar 70 anos de idade, o morador fundador de Alvorada do Oeste, João Távora Filho, é uma das figuras mais carismáticas..

Por Diário da Amazônia
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Publicado: 14/08/2014 às 13h32min | Atualizado 29/04/2015 às 01h03min

João Távora é morador e um dos fundadores de Alvorada do Oeste, e uma das figuras mais carismáticas da cidade

João Távora é morador e um dos fundadores de Alvorada do Oeste, e uma das figuras mais carismáticas da cidade

Prestes a completar 70 anos de idade, o morador fundador de Alvorada do Oeste, João Távora Filho, é uma das figuras mais carismáticas de sua região e traz, em meio a tantos outros projetos, um guia de revitalização para a história e a memória. Entrevistado pelo Diário da Amazônia, o popular historiador, um autodidata construído a partir de sólidas ideologias de fortalecimento cultural, explica como sua luta, em prol de Alvorada do Oeste, fez originar bons frutos. Dentre estes, a criação de um museu da história local.

De acordo com as informações de João Távora, que é natural do estado do Paraná, sua chegada a Rondônia se deu no ano de 1976, quando muita coisa “aqui ainda era bem diferente”. Na ocasião, demarcou um lote de terra que foi denominado “Sítio Alvorada”. Neste local, nascia, alguns anos depois, o município que fora, posteriormente, juridicamente criado.

João Távora explica que até o ano de 1979 o sítio onde morava fazia parte do distrito de Presidente Médici, em Ji-Paraná. Os moradores Altamiro Amaral, Cícero Pedro da Silva, Furtuoso Alves Figueiredo, Moisés Amaral Silva, Nelson Francisco dos Santos, Satílio Dias França, além do próprio João Távora Filho, tomaram a frente para a criação do povoado de Alvorada do Oeste. Em seu blog, um espaço dos mais acessados na internet pelos moradores locais, João Távora publicou que no dia 20 de abril de 1979 foi criada uma escola que atenderia 20 crianças. Esse seria o primeiro indicativo de que o povoado abria sua rota para o desenvolvimento.

Durante entrevista, João Távora também ressaltou sobre a formação étnica do povoado de Alvorada. Segundo ele, esses moradores chegaram, na época, do Mato Grosso e outra do Paraná. Um fato curioso, segundo Távora, é que a descendência também é muito forte de nordestinos. Seriam nordestinos que moravam no Mato Grosso e migraram para Rondônia.

Pai de dez filhos, vinte e quatro (24) netos e quatro (4) bisnetos, João Távora diz se sentir um homem privilegiado. “Nunca tivemos muito dinheiro mas a saúde e alegria nos acompanhou sempre”, diz.

Entrevistado destaca principais obstáculos na criação do município

Diário – Como a história de criação de Alvorada do Oeste foi iniciada?

Távora – Eu havia sonhado, no Paraná, vir para a região e abrir um sítio com o nome de Alvorada. O nome foi escolhido por eu ser fã de Juscelino Kubitschek e associá-lo ao Palácio da Alvorada. Isso foi no ano de 1974. Naquela época, eu desejava fundar uma cidade com esse nome.
Diário – Outras pessoas já moravam naquela localidade?

Távora – Não. Quando o Incra instalou, no ano de 1970, um projeto de demarcação, lei número 1110, ele só tinha condições para administrar cerca de 10% desse território. Era um projeto de colonização. O nosso, o pessoal invadiu uma área devoluta. Em seguida, fazia uma averiguação e nos preparava uma carta de ocupação. Na época, eles abriram uma estrada, a RO-02, que atualmente é chamada de 429. Ela não atendia todo o cenário. Alcançava apenas até a quarta linha. Nós precisávamos andar muito a pé para encontrar esses terrenos. As nossas cargas eram carregadas nas costas e, sem nenhuma experiência. Durante todo o dia entrávamos por essas caminhadas. À noite, pernoitávamos para um descanso. Pela manhã, uma comida ligeira, “quebra torto”, era preparada para prosseguirmos a caminhada.

Diário – Esses eram os maiores obstáculos?

Távora – Ainda não. Nós subíamos uma serra e, lá em cima, descansávamos. Depois, descíamos até a beira do rio Ricardo Franco. Outra vez pernoitávamos para em seguida chegar aos lotes. Ao todo, faríamos dois dias e meio de viagem a pé.
Diário – O pessoal conta que naquela época vocês receberam a visita do então governado Jorge Teixeira. Como foi isso?
Távora – Nossas dificuldades eram muitas e não tínhamos como ficar naquela região sem alimento e estradas. Então, eu pedi a ele, pessoalmente, que nos ajudasse abrindo uma estrada, instalando um posto médico e energia elétrica. Ele começou no dia 3 de agosto e finalizou em 20 dias. No dia 5 de setembro isso aconteceu. Em função disso, a via ganhou o nome de rua 5 de Setembro. Tudo isso aconteceu no ano de 1979. Esses lotes que deram início ao município ficam à margem direita do rio Ricardo Franco.

Diário – E quem foi Ricardo Franco, merecedor do nome desse rio?

Távora – Ricardo Franco de Almeida Serra foi quem construiu o Forte Príncipe da Beira. Era um engenheiro militar da comissão de Portugal. Isso está ligado ao Tratado de Tordesilhas que deu a Portugal uma parte dessas terras, acordo com a Espanha.

Desde de 1979 ele começou a busca por materiais históricos

O museu João Távora objetiva a preservação da história do município de Alvorada do Oeste

O museu João Távora objetiva a preservação da história do município de Alvorada do Oeste

No início do mês de julho de 1979, João Távora Filho vai à subprefeitura e convida o administrador do Distrito de Presidente Médici, Antônio Geraldo da Silva (Toninho) a conhecer o local, onde eles pretendiam fundar um povoado. Antônio Geraldo admirou-se da corajosa iniciativa de João Távora e de seus amigos em fundar um povoado no meio da floresta. Toninho aceitou o convide e, na manhã do dia 11 de julho do mesmo ano embarca juntamente com João Távora e o grupo no barco do senhor Wilson e sobre os rios Machado e Muqui e improvisaram com folhas de palmeiras sobre o chão e dormiram no meio da floresta. Ao amanhecer alguém disse: já é Alvorada, vamos partir. Eles chegaram ao sítio do senhor João Távora por volta do meio-dia do dia 12.

Dia 13 de julho de 1979, houve a reunião para a aprovação do local onde iria iniciar a formação do povoado. Participaram da reunião o administrador do Distrito de Presidente Médici, Antônio Geraldo da Silva “Toninho”, Satílio Dias de França, Satílio José dos Reis, Furtuoso Alves Figueiredo, Altamiro Amaral, Cícero Pedro da Silva, Pedro Pereira dos Santos, Expedito Mariano Gaia, Sebatião Dutra, Dalmo Rodrigues de Oliveira, Sebastião Antônio dos Santos, Jacir José de Oliveira, Joaquim José dos Reis e João Távora Filho.

Definido o local para o início da formação do povoado o administrador do distrito de Presidente Médici, Antônio Geraldo promete levar aos conhecimentos das autoridades superiores. Nesse período a região pertencia ao distrito de Presidente Médici, Município de Ji-Paraná. No mesmo mês Antônio Geraldo foi à sede do Município e comunica ao prefeito “Assis Canuto” a existência da formação de um povoado no Vale do Rio Muqui.

No dia 5 de agosto, os desbravadores reuniram-se e escolheram o Senhor Arinaldo Alexandre dos Santos para coordenar os serviços de desmatamento da área escolhida, Sebastião Alves Neves como cozinheiro. No dia 10 de agosto deu início a roçada da área onde iriam formar as primeiras quadras. Nesse dia trabalharam sobre a coordenação de Arinaldo 38 homens, no dia 18 de agosto, 22 homens e no dia 28 de agosto o Senhor Satílio José dos Reis que era o encarregado da topografia, também, trabalhou na roçada com dez homens. No final da tarde combinaram que o senhor Epaminondas do Amaral, trabalharia cinco dias com uma moto serra na derrubada das árvores. (Do blog do históriador)

Por Analton Alves



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