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Diário da Amazônia

Presídio modelo tem sua 1ª rebelião

O Centro de Ressocialização Cone Sul teve a sua primeira rebelião registrada na noite da última quarta-feira. Os presos tomaram a ala,..

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Publicado: 01/08/2014 às 15h08min | Atualizado 27/04/2015 às 21h05min

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Colchões foram queimados pelos presos que destruíram cerca de 60% da ala onde ficavam

O Centro de Ressocialização Cone Sul teve a sua primeira rebelião registrada na noite da última quarta-feira. Os presos tomaram a ala, atearam fogo em colchões, agrediram detentos de menor potencial ofensivo, pediram a presença da imprensa, do juiz da Vara de Execuções Penais, a “cabeça” do diretor do presídio, Juraci Duarte, e a saída de três agentes penitenciários que, segundo os presos estavam praticando tortura psicológica contra eles. Ao elegerem um grupo para representa-los, exigiram liberação para fumar dentro do presídio, aumentar de um para quatro visitantes, instalação de um freezer, café da manhã extra, maior tempo de banho de sol, e de visita íntima, que é realizada toda semana.
“Nós não vamos atender nada”, disse o diretor do presídio, Juraci Duarte, que disse estar satisfeito por terem pedido sua exoneração. “Se não tivessem pedido, era sinal de que havia algo errado”, acrescenta. Das 256 vagas disponíveis no Centro de Ressocialização, 216 estão preenchidas. Os detentos têm atendimento médico 24 horas, recebem apoio psicológico, e acesso ao trabalho. “Eles não tinham porque fazer isso”, opinou Duarte. Tudo começou por volta das 19h30, e a confusão estendeu-se por toda a madrugada. Hoje pela manhã a equipe de reportagem do Diário da Amazônia acompanhou de perto os trabalhos para reestabelecer a rotina do local e teve acesso direto aos presos, bem como à ala dominada por eles.

Início

Segundo o diretor do presídio tudo começou quando “caiu” a energia no local. Dos presos lotados na cela, quatro começaram a bater na porta para chamar a atenção dos agentes para pedir o reestabelecimento da luz. Foi quando um dos pinos que dão sustentação à bigorna (uma porta grande que fecha a cela, e é comandada pelo agente penitenciário) caiu, e a porta cedeu. Os detentos saíram da cela e começaram uma algazarra. Eles quebraram uma cadeira de madeira, e um pedaço foi utilizado como alavanca para romper as barras de ferro que dividem o setor de uso exclusivo dos agentes. Ao ter acesso ao local perceberam que poderiam abrir as outras celas e conseguiriam fugir do local.

Acordo

A porta que dá acesso ao setor invadido tem uma trava elétrica que só é liberada por uma senha numérica, foi o que evitou que os presos tomassem outros setores do presídio. Retomada a luz e iniciadas as negociações, inicialmente não houve acordo.
Os detentos começaram a colocar fogo nos colchões. Para isso utilizaram fios elétricos das tomadas das celas para chamar a atenção. Para queimar os colchões produziram faíscas encostando os fios uns nos outros.
Cerca de 60% da ala onde ficam os detentos ficaram destruídos. Salas de aula, carteiras escolares, enfim, tudo o que podiam destruir foi inserido no fogo, ou deteriorado.

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   Ala foi tomada por presos

 

Autores da confusão separados

De acordo com dados da diretoria do Centro de Ressocialização Cone Sul, os idealizadores da confusão foram 21 presos. Eles incitaram os demais, e promoveram a violência contra os colegas. O grupo considerado como pessoas que têm liderança no presídio, e poder de persuasão, foi separado dos demais e agora irá cumprir pena individual no setor antes utilizado apenas como celas de regime disciplinar.
O diretor do Centro de Ressocialização Cone Sul, Jurací Duarte disse que eram alocados oito presos por cela. Por conta da confusão, e da destruição de algumas delas, os presos foram remanejados temporariamente e agora cada uma contará com 10 apenados. Duarte explicou que a reforma das celas incineradas será feita dentro de aproximadamente cinco dias. “Colocaremos os presos menos problemáticos nelas, para assim podermos concluir a reforma”, explicou.

Feridos

Durante a rebelião 16 presos ficaram feridos. Pelo menos três foram violentamente agredidos pelos demais. As vítimas da confusão são chamados dentro do presídio de “duzentões”, pessoas condenadas por violência sexual. O preso João Zeverino, de 60 anos, teve o dedo quebrado por conta da surra que recebeu.  Ele não cumpre pena por violência sexual, mas é um preso “modelo”, pois trabalha, adere a todas as atividades socioeducativas desenvolvidas na unidade, e não gera problemas ao sistema. Ele contou que tentou conter a confusão, foi quando iniciaram as agressões. Ele ficou repleto de hematomas pelo corpo.

Autoridades

Na manhã de ontem, o secretário Estadual de Justiça, Paulo Cesar de Fiqueiredo, visitou a unidade com o juiz corregedor do presídio, da 2ª vara criminal de Vilhena, Adriano Toldo, além do tenente-coronel da Polícia Militar, Paulo Sérgio Vieira Gonçalves, e o gerente-geral da Secretaria de Justiça, Adeilso da Silva. Para a imprensa o secretário disse que irá realizar o levantamento do custo da reforma da unidade, para realizar a compra dos materiais destruídos. O juiz Adriano Toldo disse que toda a destruição poderia ter sido evitada se os detentos tivessem chamado a diretoria para conversar pacificamente. “É desolador ver uma estrutura desse porte, considerada invejável em nível de país, destruída”, comentou.

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Alas firaram destruídas

Todos queriam o ‘bonde’

Por conta do regime rígido de disciplina instalada na unidade, os 21 presos apontados como autores e fomentadores da confusão pediram o “bonde”, que na gíria de cadeia significa transferência de presídio. Entretanto, o diretor do Centro de Ressocialização Cone Sul, Juraci Duarte, garantiu que nenhum deles será transferido. “O que eles querem é isso mesmo. Aqui eles não encontram moleza e tentam mudar de unidade. Vão cumprir as penas aqui”, enfatizou. Enquanto a equipe de reportagem caminhava dentro do presídio para conferir a destruição, Duarte informou aos presos que não haveria negociação quanto a isto.

Ressocialização

Segundo Duarte, os presos da unidade prisional recebem todo tipo de auxílio possível. “Eles têm acesso a tudo. Podem trabalhar, têm direito a visitas, visitas íntimas, enfim, tudo o que podemos oferecer. Mas consumo de cigarro, e drogas não é permitido e nem pode ser”, reafirma.

Má qualidade da obra

Segundo o diretor do Centro de Ressocialização, um fato que contribuiu para toda a confusão foi a baixa qualidade da obra. Ele contou que as bigornas são ressoldadas com frequência por conta da qualidade do ferro usado em sua construção, que não suporta a finalidade do equipamento. A equipe de reportagem do Diário da Amazônia viu de perto o local onde tudo começou, e percebeu que na maioria das celas há remendos.

Por, Rômulo Azevedo



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