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RONDÔNIA

Bairro Triângulo continua desbarrancando

“A água estava no segundo degrau da escada quando resolvemos sair, antes que entrasse em casa. O nível do rio subia da noite para o..

Por Portal SGC
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Publicado: 18/11/2014 às 08h35min

A rua principal que dá acesso ao bairro pode desabar a qualquer momento devido ao desmoronamento de terra

A rua principal que dá acesso ao bairro pode desabar a qualquer momento devido ao desmoronamento de terra

“A água estava no segundo degrau da escada quando resolvemos sair, antes que entrasse em casa. O nível do rio subia da noite para o dia, se não saísse poderíamos amanhecer dentro d’água”, recorda José de Oliveira Filho, 79, se referindo aos últimos instantes vividos em sua casa antes de abandoná-la, no bairro Triângulo, quando se deparou frente a frente com o primeiro impacto causado pela enchente histórica: a invasão das águas do rio Madeira, que nos meses seguintes manteve sua casa quase que em sua totalidade debaixo d’água.

Passados dez meses, o cenário encontrado na casa é devastador, inclui a marca deixada pela água nas paredes da casa (cerca de dois metros), vasta camada de sedimento e troncos de árvores. Fora a força da natureza, vândalos se encarregaram de levar os fios de energia e demais objetos que caracterizavam o espaço como um lar.

Hoje, o senhor José vive com a esposa em um apartamento alugado na estrada de Santo Antônio e desistiu da ideia de retornar para sua casa, no bairro Triângulo: “Não tenho mais vontade de voltar. O bairro ficou isolado e os bandidos estão aproveitando dessa situação, sem contar que daqui a pouco chega o inverno e pode alagar de novo. O barranco está aí, não dá para ficar porque está desmoronando”, diz. “Tudo o que quero agora é uma casa, que tenha um terreno pra me entreter. Que eu possa plantar uma “coisinha” ou outra”, resume.

José Filho é um dos moradores do Triângulo que sofre os impactos da cheia histórica e que agora estão preocupados com outro fenômeno: o desbarrancamento do rio Madeira, que avança em direção ao bairro.

vários impactos sofridos

Aracy de Souza explica que os moradores do Triângulo foram impactados de várias formas: uma delas envolveu famílias tradicionais que fazem parte do projeto Parque das Águas, em segundo as famílias impactadas pela construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. “Até agora não sabemos que vai ser feito”, diz. Outro impacto diz respeito às famílias que moravam à margem e foram atingidas e indenizadas pela UHE Santo Antônio. O último impacto que as famílias vivenciaram foi em decorrência da enchente. “Todos os moradores do baixo Triângulo tiveram suas casas alagadas, soterradas e várias destruídas pelo desmoronamento. Nasci e me criei no bairro e nunca tinha visto nada parecido. Não somos contra o desenvolvimento do Estado porque batalhamos por uma vida melhor. Nossa preocupação é com a construção de uma Usina nos fundos de nossos quintais e depois disso conviver com situações que nos faz ver a destruição de nossa história de vida e as autoridades não se manifestam. Promessas temos muitas, mas não vivemos de promessas”. O projeto Parque das Águas inclui a retirada de famílias carentes de áreas dos bairros Baixa da União e Triângulo.

Passados dez meses da enchente, o cenário encontrado na região é devastador

Passados dez meses da enchente, o cenário encontrado na região é devastador

Morro do Triângulo pode ser atingido

Aracy Silva de Souza, presidente da Associação de Famílias Tradicionais do Bairro Triângulo afirma que a comunidade receia que os moradores da parte alta do bairro, chamado Morro do Triângulo possam ser atingidos com o desbarrancamento. “Nossa luta começou com o desbarrancamento que impactou moradores da margem do Madeira. Naquela ocasião, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com ação e conseguiu que as famílias fossem indenizadas pela Santo Antônio Energia”, recorda. “Achávamos que todo o bairro seria atingido, mas a Usina sempre disse que não, até que veio a grande cheia. Nós estávamos acostumados com cheia, que alagavam os quintais, mas nunca as casas”, afirma.

Aracy faz parte das famílias que receberão moradias, como forma de compensação pelos danos causados pela enchente e ações previstas no decreto do estado de calamidade pública, mas afirma que sua maior preocupação, neste momento, é com os moradores que permanecerão na parte alta do bairro. “O que percebemos é que cada noite que passa desbarranca mais um pouco e continua desbarrancando. É uma situação estranha, não é o rio batendo e levando as margens, é como se fosse fazendo buraco por baixo e o barranco vai cedendo”, detalha.
Morar em outro bairro, não impede Aracy de visitar sua casa no Triângulo todos os dias. “Temos que ver como está, senão roubam as coisas da casa. Por conta própria tiramos o sedimento da minha casa, e venho aqui todos os dias. É difícil abandonar, temos que cuidar de nossas raízes. É como uma árvore mesmo, se tirar a raiz, ela morre e não temos interesse que acabem com nossa história”. finaliza.

Muitas casas ainda estão tomadas pelos sendimentos

Muitas casas ainda estão tomadas pelos sendimentos

Vítimas da enchente serão contempladas

Na semana passada, os moradores do bairro Triângulo participaram de uma reunião com técnicos da prefeitura para definição da entrega da casa própria prevista para as vítimas da enchente. “Ficou acertado que o prefeito se reunirá com as famílias amanhã para mostrar o local onde será as casas”, diz Valdelice Ferreira de Almeida.

De acordo com Márcio Felix, secretário de Estado da Assistência Social (Seas), a previsão de entrega da primeira etapa de casas para os desabrigados pela enchente é no mês de dezembro, quando serão contemplados moradores de áreas próximas à margem do rio Madeira, como é o caso de famílias do bairro Triângulo e ribeirinhos do Baixo Madeira, por exemplo.

Segundo o secretário, os desabrigados deverão comprovar renda bruta de R$ 3.275, mais laudo da Defesa Civil Municipal informando que a área não está habitada e que será interditada, de maneira permanente.

Os técnicos da Seas trabalham atualmente na atualização dos dados do Cadastro Único, que contém informações sobre as famílias impactadas pela cheia. “Estamos fazendo uma força-tarefa junto com a prefeitura para fazer a entrega desses domicílios o mais rápido possível”, afirma.



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