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Diário da Amazônia

Dramaturgia do livro – A Arma da Mulher…

A escritora, pesquisadora e poeta Nilza Menezes apresentou no último final de semana no Espaço Tapiri do grupo O Imaginário de Porto..

Por Sílvio Santos Diário da Amazônia
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Publicado: 20/12/2016 às 05h20min

A atriz Raíssa Dourado num momento especial da dramaturgia criada pelo diretor Chicão Santos, do O Imaginário

A escritora, pesquisadora e poeta Nilza Menezes apresentou no último final de semana no Espaço Tapiri do grupo O Imaginário de Porto Velho/RO, seu mais recente trabalho literário ‘A Arma da Mulher é a Língua’. Com direção e damaturgia de Chiocão Santos os poemas foram apresentados ao público presente.

A jornalista especializada em cultura e mestre em Letras Simone Norberto escreveu a seguinte crônica sobre o espetáculo:

A arte é arma por Simone Norberto

Resenha crítica sobre o espetáculo “A Arma da Mulher é a Língua”, do grupo ‘O Imaginário’, baseado na obra poética de mesmo nome da escritora Nilza Menezes.

Na sala pouca iluminação. Somente o suficiente para destacar as cinco atrizes que interpretam o espetáculo. Elas entram entoando murmúrios, como se lamentando sua condição de mulheres oprimidas por uma cultura machista, que as obriga a papéis nada igualitários.

Em seguida, posicionam-se em nichos próprios, e vão cavando na terra, reminiscências femininas. A areia no chão do espaço, é concepção que remonta ao tema. A terra é mulher, é mãe, elemento que representa a origem, onde se cultiva e de onde se obtém a colheita.

Nesse ambiente quase uterino, as sementes fecundadas são os poemas de Nilza Menezes, autora da obra “A Arma da Mulher é a língua”, cujo encenação poética é produzida com sensibilidade pelo grupo “O Imaginário”.

O espetáculo, como no livro, faz uma arqueologia da condição feminina na sociedade. Por meio dos versos de Nilza, as atrizes dão voz às várias mulheres, em diferentes situações. Enfrentam seus traumas, medos, suas insatisfações e suas angústias. Encaram suas conquistas e impõem sua força.

Com poucos objetos, como espelhos, baús, taças de vinho,  bacias d’água e lenços, elas vão construindo um cotidiano que perpassam toda uma vida. Da infância à maturidade. Do nascimento à morte. Movimentos corporais, entonações e gestos cênicos, ajudam a compor as diversas Nilzas, Amanaras, Bárbaras, Flávias, Magnas ou Vitórias que surgem do debruçar sobre o poema.

Do trabalho entre objeto e intérprete vê-se o resultado em suor, lágrimas e sangue. Sangue, que metaforicamente sai dos poemas e se materializa em groselha em cenas impactantes de identificação e entrega.

Outro momento da encenação que aconteceu no final de semana na Sala Tapiri

A dramartugia sonora assinada pelo músico Bira Lourenço, traz com sutileza os sons da casa. O tilintar das louças e o ranger da escova remontam o ambiente que a estrutura social quer dar à mulher, mas o estralar do chicote espelha a língua ferina que quer protestar contra essa posição subalterna. A tensão se instala a partir do som.

O público sente esse incômodo. Desde que chega ao espaço é incitado a se tornar parte desse cenário, pois não há lugares para se sentar. A maioria, por comodidade ou receio de invadir o espaço de encenação, acaba se encostando nas paredes laterais, mas a concepção cênica de Chicão Santos dá margem à circulação entres as atrizes.

Talvez pelo impacto, ou mesmo uma necessidade de se trabalhar um pouco mais a interação, isso acaba não acontecendo, nada que tire o brilho ou força do resultado final.

Como bem definiu a própria poeta, é muito interessante perceber as diferentes leituras de um mesmo poema. “Temos a sensação de que são criações autônomas, que não dependem do autor para que aconteçam”. No caso do espetáculo, os poemas ganham voz, vigor, vida e nos dizem que é preciso usar a arte como arma contra o preconceito, contra o desigualdade, contra todos os tipos de violações e violência.

(*) A autora é jornalista especializada em cobertura cultural. É mestre em letras pela Universidade Federal de Rondônia.



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