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Estatística do uso de drogas em Porto Velho

A realização da I Jornada de Prevenção às drogas, ocorrida em Porto Velho, no último dia do mês de julho, serviu como pontapé..

Publicado: 11/08/2014 às 14h40
Atualizado: 27/04/2015 às 07h44

Drogas PVH ok 2A realização da I Jornada de Prevenção às drogas, ocorrida em Porto Velho, no último dia do mês de julho, serviu como pontapé inicial para trazer à tona uma discussão que incomoda a sociedade e que deve ser a tônica de reuniões e preocupações domésticas, uma vez que o número de pessoas que usam ou fizeram o uso de drogas em algum momento de suas vidas é alto: mais de 5 mil pessoas cadastradas num dos dois Centro de Atenção Psico Social (Caps), existentes em Porto Velho e que auxiliam na recuperação de usuários.

Mesmo representando o registro de pessoas cadastradas, ou seja, indivíduos que podem ter utilizado dos serviços do Caps uma única vez, ainda assim o número de pessoas que participam dos grupos terapêuticos ou que tomam medicamentos para desintoxicar o organismo é elevado, de acordo com os porta-vozes destes centros. O número de ex-usuários de drogas que desenvolvem doenças físicas ou psicológicas decorrentes do uso de entorpecentes também é preocupante. Para se ter uma ideia, diariamente são realizadas consultas, distribuídos medicamentos e centenas de pessoas participam dos grupos terapêuticos, envolvidas em atividades de cunho motivacional e de apoio, com característica de alto ajuda.

Lorrine Soares, diretora do Caps AD, que funciona em Porto Velho prestando atendimento piscossocial a usuários e ex-usuários de álcool e outras drogas explica que o centro realiza atendimento individual, visitas domiciliares e as reuniões em grupos. Há grupos de homens, mulheres e de familiares, que recebem orientação que ajudam a auxiliar no tratamento de quem precisa. No Caps são oferecidos atendimentos psicológico e médico com clínico geral e psiquiatra. Lorrine explica que para receber atendimento, basta que a pessoa tenha interesse em ser ajudada. “O resultado não costuma ser eficaz quando não tem a vontade do paciente, como nos casos em que é enviado pela Justiça ou por familiares. O ideal é que a pessoa queira se livrar do uso das drogas”, enfatiza Lorrine.

Pelo atendimento do Caps AD já passaram 5.034 pessoas. Pelo menos metade deste número faz o tratamento para se recuperar dos prejuízos ocasionados pelas drogas, alguns tratam problemas de saúde e lutam para se manterem “limpos”. No Caps Infantil atualmente 123 adolescentes são acompanhados com o mesmo objetivo e para evitar a progressão do ciclo destrutivo do uso das drogas.

História de Superação no caps

Vespaziano Ramos, 52, frequenta o Caps AD há três anos para tratar os danos que uso contínuo de drogas – por mais de 30 anos – acarretaram em sua vida. Agora, motivador dos grupos que frequenta, Vespaziano conta, com orgulho, a luta que trava diariamente para não ter que voltar a consumir drogas. “Corro todas as manhãs, me mantenho ocupado, ajudo outras pessoas a superarem suas dores. Tenho uma rotina de trabalho, que me esforço para cumprir, mas o principal de tudo é o apego com Deus. Peço ajuda a Ele todos os dias, que me dê forças. Deus é meu ponto de equilíbrio”, ressalta.

Mas nem sempre foi assim. Vespaziano sempre levou a vida, embalada pelo uso de entorpecentes, de maneira irregular. Nunca casou, mas teve três filhos, hoje duas são adultas e um adolescente. “Todos de mães diferentes. Eu só fazia perguntar: é meu é? Registra”, conta. Ele detalha que até certo ponto cumpriu sua atividade profissional com responsabilidade, mas quando as drogas já haviam destruído sua confiança, autoestima, as finanças e seu equilíbrio emocional, pensou em desistir do trabalho. “Entrei na sala gritando que queria um afastamento por três anos. Estava descontrolado mentalmente… Exatamente naquele dia, um grupo de indígenas invadiu a sede da Funasa, onde eu trabalhava, e diziam que lá ninguém entrava, nem saía. Foi realmente um milagre, porque eu precisava desse tempo para voltar atrás. Chegou até mim uma senhora chamada Maria Farias e me deu conselhos: que eu precisava pôr a cabeça no lugar, porque estava fazendo tudo errado. Ouvi e desisti do processo de afastamento. Por incrível que pareça coincidiu com a recuada dos indígenas”, lembra.

Vespaziano reconheceu que precisava de socorro e da necessidade de tentar recomeçar. “Pedi uma nova chance ao meu chefe. Prometi que me apegaria a isso e que voltaria com equilíbrio para trabalhar corretamente. Fui levado pelo carro da repartição, primeiramente para uma clínica. Cumpri o que havia prometido e caminhei em direção à sobriedade”, pontua.

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Jovens sofrem com drogas

Álcool: umas das primeiras drogas usadas

O uso de álcool costuma se tornar comum na adolescência, quando jovens, sem que percebam começam a trilhar uma caminhada rumo a dependência de psicotrópicos (drogas psicotrópicas são aquelas que atuam sobre o nosso cérebro, alterando de alguma maneira o nosso psiquismo). “O álcool geralmente é a primeira droga que os usuários experimentam”, conta Ademir Pereira, que atualmente trabalha como voluntário no Caps AD e foi o diretor fundador do centro.

Ele explica que, de maneira geral o que acontece é um processo de evolução no qual os usuários buscam por novas emoções e com isso terminam experimentando substâncias cada vez mais fortes e que induzem ao vício rapidamente. “Às vezes esse processo é rápido. O que temos que ter em mente é que a droga não escolhe classe social e chega quebrando tudo. A pessoa perde dinheiro e a dignidade. Muitos perdem a casa, bens materiais diversos e até a roupa do corpo. Uma coisa leva a outra e é preciso muito cuidado porque geralmente começa pelo álcool, uma droga legalizada”, observa.

Doenças das drogas

De acordo com Brisa Soares Vergotti, médica, especialista em dependência química e psiquiatria, as doenças que se manifestam decorrentes do uso de drogas podem ser físicas e psiquiátricas. “Existem problemas de saúde que podem ser desenvolvidos a partir de um único contato com certo tipo de drogas. Algumas pessoas que possuem pré disposição para desenvolver esquizofrenia desenvolvem ao fazer uso da maconha, por exemplo. Talvez não desenvolveriam se não tivessem usado. Uma vez com o sintoma, a pessoa sempre terá problemas”, especifica a médica.

Doenças causadas pelas drogas

Álcool – Desnutrição, neuropatia pós-alcóolica, dores, dificuldade para andar, gastrite, úlceras, cirrose hepática, câncer no trato gastrointestinal: boca, esôfago e estômago, além de demência (perda de memória e capacidade de se relacionar). O álcool destrói o cérebro e causa perda de memória progressiva.
Maconha – A maconha ocasiona a chamada síndrome amotivacional, que traduzindo seria ausência de motivação. Pode gerar sintomas e enfermidades psicóticas e esquizofrenia. A maconha contribui para redução da capacidade de atenção e de memorização. “Há o resultado de estudo de um grupo científico que pesquisou por 30 anos e com mostra significativa de pessoas que usaram a droga desenvolvem microlesões no cérebro. A maconha é perturbadora do sistema nervoso central”, detalha Brisa. Para definir este trecho, a médica explica que o álcool deprime e o crack e cocaína, por exemplo, são estimulantes do sistema nervoso central. A maconha causa manifestações diferenciadas entre os usuários, que pode variar entre euforia e disforia.

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A maconha ocasiona a chamada síndrome amotivacional, além de gerar sintomas e enfermidades psicóticas e esquizofrenia aos usuários(Foto: Gilmar de Jesus/Arquivo/Diário da Amazônia)

Cocaína e Crack

Já a cocaína e o crack excitam o sistema nervoso central, neste caso o usuário fica agitado, super ativo, o sistema cardio vascular acelerado, os vasos sanguíneos se contraem e há risco de a pessoa sofrer um infarto.
A cocaína causa lesões na mucosa nasal, úlcera, picos de hipertensão (aumento da pressão arterial) e infarto do miocárdio. O crack, por ser fumado induz a problemas respiratórios, demência e desnutrição. As informações da doutora demonstram que estas duas drogas, e o crack com maior frequência, induzem os usuários à morte violenta, uma vez que para adquirir drogas, não raramente a pessoa, num processo chamado de fissura (quando quer fazer uso de entorpecente de qualquer maneira) passa a assaltar ou se envolver em brigas para obter a droga. A expectativa de vida de usuários de cocaína e crack, se não forem tratados, é de cinco anos, em média.

 

 

 

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I Jornada de Prevenção às Drogas, organizado na semana passada em Porto Velho(Foto: Roni Carvalho/Diário da Amazônia)

Acolha seu Filho, antes que as Drogas o Adotem!

Acolha seu Filho, antes que as Drogas o Adotem! Este é o nome do projeto desenvolvido pela Superintendência Estadual da Paz (Sepaz), há dois anos na Capital e no Estado. Também foi o tema norteador da I Jornada de Prevenção às Drogas – evento que aconteceu no auditório da Faculdade São Lucas, semana passada. Para a coordenadora de Políticas sobre Drogas da Sepaz, Adriane Soares, a realização “desse momento, nos possibilitou agregar os principais elementos constitutivos do ‘Acolha seu Filho’, que é a sensibilização, a mobilização e a capacitação de profissionais da área da saúde, da assistência social e da educação, para que se apropriem de informações técnicas e possam implantar ações preventivas nos seus locais de trabalho; possam se preparar para fazer um atendimento mais adequado aos usuários e às famílias, ampliando também as possibilidades de estratégias de prevenção”, considera.

Ainda de acordo com informações da coordenadora Adriane, o projeto surgiu da necessidade de se estabelecer ações mais efetivas contra o crescente aumento do uso de drogas lícitas e ilícitas. Segundo ela, “começamos desenvolvendo campanhas junto à população porto-velhense; tivemos a oportunidade de chegar mais perto das pessoas para orientá-las, através de panfletos, material de propaganda, blitze educativas, material educativo e informativo. Em decorrência disso, elaboramos o projeto que foi lançado em outubro de 2012”, explica.
A superintendente da Sepaz, ao falar sobre a importância de ter políticas públicas voltadas para assistir aos familiares de dependentes químicos disse que o “evento parece ser simples, mas todos aqui são conhecedores de como é difícil realizar algo desse nível, principalmente quando se aborda um assunto tão complexo como as drogas! Hoje nós temos muitas ações em Rondônia, que visam ao tratamento e à recuperação, mas para a prevenção a exigência é ainda maior! Reunimos nesse evento autoridades sobre o assunto. Nosso objetivo também é levar essa jornada para os 52 municípios de nosso Estado. Para alcançar este objetivo, estamos colocando a ‘Sepaz itinerante em ação’ para podermos levar esta proposta de prevenção a todas as famílias de nosso Estado”, assegurou.

Na ocasião, o secretário nacional de Políticas sobre Drogas, Victore André Maximiliano, falou dos aspectos que fundamentam a parceria entre os governos Federal e Estadual ao desenvolverem ações que buscam coibir o avanço das drogas em nosso País. Para ele, é de fundamental importância que cada localidade desenvolva estratégias específicas de ação contra as drogas e salienta “que Rondônia é mais um Estado da federação onde estamos fortalecendo e iniciando novas estratégias que buscam resultados eficazes, para solucionar este grande problema que afeta grande parte da população brasileira. Quanto mais alertarmos a sociedade em relação aos fatores de risco que, muitas vezes levam os indivíduos ao consumo abusivo de substâncias químicas, mais precisamos fazer isso. Por outro lado, é preciso informar quais são os fatores de proteção dos quais dispomos; estes merecem ser fortalecidos, para que as pessoas possam se apropriar de meios que diminuem os riscos do consumo precoce. É o que estamos fazendo: produzindo ciência, promovendo a capacitação de gestores para atuar com maior eficiência na prevenção e no combate ao uso de drogas”, concluiu.

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Caps AD rua Lauro Sodré, Nº 1.964, bairro Pedrinhas, telefone: (69) 3901-2877(Foto: Jota Gomes/Diário da Amazônia)

Como buscar ajuda nos Caps de porto velho

Em Porto Velho existem quatro Caps, dois deles oferecem apoio para o tratamento para dependência química. Um para o público adulto e outro para o público infanto-juvenil. Nos dois casos, a comunidade pode procurar diretamente um dos centros ou buscar ajuda através de encaminhamento médico. O Caps infantil também oferece tratamento para transtornos mentais que não são decorrentes do uso de drogas. Caso os pais identifiquem qualquer comportamento diferenciado em crianças e jovens com idade entre 05 e 16 anos, podem procurar o centro. No local os pequenos passam por avaliações e acolhimento.

As reuniões com grupos no Caps AD são realizadas as quartas e sextas-feiras.

 

Por Mineia Capistrano e Edilene Santiago

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