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Técnica que cria rins a partir de células-tronco de camundongos

A técnica poderá ser usada em humanos, dizem cientistas

Publicado: 06/02/2019 às 10h47

Foto: AFP/ANNE-CHRISTINE POUJOULAT

TÓQUIO — Cientistas do Japão divulgaram nesta quarta-feira, dia 6, o sucesso de uma pesquisa que utilizou células-tronco de camundongos para desenvolver rins em embriões desses animais. A técnica poderá, um dia, ajudar no desenvolvimento de rins humanos para fins de transplantes.

Os pesquisadores afirmaram que o sucesso é o primeiro passo antes que o método possa ser utilizado em humanos. No entanto, ressaltaram que ainda existem “barreiras técnicas sérias e questões éticas complexas” nesse uso.

A técnica já havia sido usada anteriormente para desenvolver o pâncreas em camundongos. Mas o novo estudo é a primeira evidência de que um dia será possível usar esse método científico para solucionar a enorme escassez de rins para transplantes em pessoas com doença renal.

Como funcionou o experimento
A pesquisa, publicada na revista “Nature Communications”, começou com o desenvolvimento de um “hospedeiro” adequado no qual os rins poderiam ser cultivados. Os pesquisadores coletaram embriões de ratos geneticamente modificados para que eles não desenvolvessem rins por conta própria.

Os embriões foram injetados com células-tronco pluripotentes (que se desenvolvem em qualquer uma das células e tecidos que compõem o corpo) de camundongos e implantados em úteros de ratos para que pudessem ser transportados.

Os pesquisadores descobriram que as células-tronco dos produziam rins aparentemente funcionais. O mesmo não aconteceu quando as células-tronco dos camundongos foram injetadas em embriões de camundongos modificados de forma semelhante.

— As células-tronco do camundongo se diferenciaram, de pronto, nos dois tipos principais de células necessárias para a formação dos rins — diz Masumi Hirabayashi, professor associado do Instituto Nacional de Ciências Fisiológicas do Japão, que supervisionou o estudo.

Porém, a técnica não foi isenta de problemas. Os animais desenvolveram rins aparentemente funcionais, inclusive com conexões adequadas com o ureter — tubo que liga os rins à bexiga —, mas morreram logo após o nascimento.

De acordo com a pesquisa, remover os genes que permitem que os rins se desenvolvam, quando os camundongos ainda estavam no útero, pode ter também removido a capacidade de olfato dos animais. Com isso, recém-nascidos não conseguiram detectar o leite, não sendo amamentados adequadamente.

Dilemas éticos
O processo de crescimento de órgãos humanos em animais representa um enigma ético porque as células-tronco humanas podem se transformar em células cerebrais ou reprodutoras no hospedeiro.

— Existem barreiras técnicas sérias e questões éticas complexas que devem ser discutidas e resolvidas antes de se produzir órgãos humanos em animais — diz Hirabayashi.

No curto prazo, é provável que novos estudos sejam focados em descobrir formas de modificar geneticamente camundongos hospedeiros sem efeitos colaterais letais.

Se esses estudos forem bem sucedidos, os pesquisadores pretendem realizar novos testes nos rins derivados de células-tronco, tentando transplantá-los dos hospedeiros para outros animais. No futuro, os testes podem envolver a tentativa de fazer crescer órgãos humanos em animais, para possibilitar o transplante.

Porcos são os ‘melhores hospedeiros’
Os porcos são considerados os melhores hospedeiros para a regeneração de órgãos humanos, mas os embriões desses animais só se desenvolvem por 16 semanas, ao contrário das 40 semanas que os bebês humanos precisam para crescer.

Isso significa que a espécie pode não ser adequada para o desenvolvimento de órgãos em embriões.

Os bois, com uma gestação de 40 semanas, poderiam ser outra opção. O pesquisador Hirabayashi afirma ter esperança de presenciar experimentos de órgãos humanos cultivados em hospedeiros animais:

— Eu não sei exatamente o fim da minha vida. Amanhã? Trinta anos? Mas acho que vou vier para ouvir notícias sobre a aplicação prática de órgãos hospedados em animais.

 

Por AFP

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