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“Falam que vamos ser expulsos de nossas terras: esse é o nosso pior presente de Natal”

Ladeada pelos três filhos e ajudando o marido Ademilson Pereira da Silva, a moradora de Minas Nova, Rosângela Oliveira, começou a..

Publicado: 22/12/2014 às 10h08
Atualizado: 27/04/2015 às 06h33

Agricultor Ademilson Pereira, esposa Rosângela Oliveira e os três filhos, apreensivos com a notícia de que vão precisar abandonar sua casa  Roni carvalho/Diário da Amazônia

Agricultor Ademilson Pereira, esposa Rosângela Oliveira e os três filhos, apreensivos com a notícia de que vão precisar abandonar sua casa Roni carvalho/Diário da Amazônia

Ladeada pelos três filhos e ajudando o marido Ademilson Pereira da Silva, a moradora de Minas Nova, Rosângela Oliveira, começou a explicar à equipe de reportagem como adquirira aquela propriedade mas, emocionada, perdeu as palavras e baixou a cabeça para enxugar os olhos na blusa molhada de suor.

A exemplo de Rosângela Oliveira, os demais moradores da reserva de Jacy-Paraná, em Buritis, estão na mesma apreensão. Após receberem notificação do Ministério Público do Estado e tomarem ciência de que uma ação de desapropriação será cumprida no próximo dia 5 de janeiro, o clima na reserva ficou ainda mais tenso. Também a possibilidade de um conflito direto com as forças policiais que podem atuar no cumprimento dessa ação levanta outra preocupação. “Nós não sairemos dessa terra. Vamos lutar. Moramos aqui desde quando isso tudo ainda não era uma reserva. Não podem nos tirar assim”, explica o produtor Antônio Carlos de Aguiar, 57 anos.

As mais de cem famílias que residem na reserva de Jacy-Paraná, região denominada Minas Nova, na opinião do morador Amilton da Silva, compõem uma comunidade que tem sido desassistida pelas autoridades regionais e federais. Segundo ele, o tratamento a essas famílias também tem acontecido com certa descortesia. “Essas pessoas estão neste local já faz algum tempo. A maioria, reside aqui há mais de 15 anos. Isso ainda nem era reserva”, explica.

A 10 e 11 - RESERVA MINAS NOVA-18-12-14-FOTO.RONI CARVALHO (84) copy

Protestos fecham as ruas de buritis

Com a ameaça eminente de que serão expulsos de suas moradias, os moradores questionam o porquê de terem sido levados para o local, no passado, sob condução da própria Agência de Defesa Sanitária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia (Idaron). De acordo com as informações, foi o próprio órgão que os colocou ali. “Essa terra ainda não era uma reserva e nos colocaram aqui para que pudéssemos iniciar nossas vidas”, explica o produtor Manoel Abinal. Ele contou ainda que, no caso de ser retirado do local, vai ter que levar toda sua família, esposa e cinco filhos, para morar embaixo de uma ponte”
Na quinta-feira última, em Porto Velho, uma comissão representativa dos agricultores, foi recebida pelo senador Acir Gurgacz. Na ocasião, expuseram suas principais preocupações e problemas. “A secretária da Sedam, Nancy Fernandes, apresentou o processo completo para o zoneamento da região. Mas, dentro do próprio órgão houve divergências. Esse impasse precisa ser contornado pelo governador Confúcio Moura para que possamos chegar a uma posição mais tranquila para todos”, explica um dos integrantes da comitiva, Alexandre Lopes. O senador Acir Gurgacz pediu um prazo de dez dias para que pudesse retornar com informações mais precisas acerca da situação junto ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

Protestos fecham as ruas de buritis

Os moradores de Minas Nova, recebendo o apoio de comerciantes, produtores e comunidade, foram para as ruas do município de Buritis protestar contra a ação do Ministério Público do Estado que anuncia a retirada destes do local. Durante a manifestação, protestaram ao microfone Roberto Mauro da Silva, presidente da Associação dos Pecuaristas e Agricultores de Buritis, Valtair Freitas, ex-presidente da Associação Comercial e Industrital, Amilton da Silva, comerciante, Alexandre Lopes, comerciante, dentre outros. Os discursos de solidariedade primaram pela explicitação da falta de sensibilidade administrativa e política dos gestores públicos.

A1- 11 - Edi9 Leal - RESERVA MINAS NOVA-18-12-14-FOTO.RONI CARVALHO (83) copyEdi leal, moradora,  Não apenas a zona rural, mas também a região urbana do município de Buritis, está abandonada. As autoridades não ligam para isso aqui. As ruas não têm asfalto, não temos posto de saúde, segurança pública, escolas. São tantos problemas”.

A10 11 - Vanedil do Prado - RESERVA MINAS NOVA-18-12-14-FOTO.RONI CARVALHO (61) copyVanedil do Pradeo, agricultor,  Não é apenas os pessoal da reserva que está com dificuldades. A cidade está abandonada. Os carros não conseguem andar por essas ruas. Na zona rural, os problemas são ainda piores. Se eles tirarem os moradores da reserva, com certeza a situação de Buritis ficará ainda pior com a falta de trabalho”.

A10 11 - Keila Cristina - RESERVA MINAS NOVA-18-12-14-FOTO.RONI CARVALHO (88) copykeila Cristina, comerciária,  Esta cidade foi abandonada pelas autoridades. Tudo aqui é difícil. As escolas são de péssima qualidade. Há muita violência. A saúde praticamente não existe. O asfalto das ruas é muito ruim. Será preciso fazer muita coisa por

Rosângela se emociona ao  contar para o repórter como fez para guardar dinheiro e adquirir sua terra  Roni Carvalho/Diário da Amazônia

Rosângela se emociona ao contar para o repórter como fez para guardar dinheiro e adquirir sua terra Roni Carvalho/Diário da Amazônia

Buritis. Há muita dificuldade em tudo que se possa imaginar”.

“Trabalhamos muito para conseguir um lugar nosso”

A moradora de Minas Nova, Rosângela Oliveira, tem três filhos, Hugo, Hudson e Stefani. Seu esposo é Ademilson Pereira. Ela diz que a casa  que estão finalizando, batendo o piso e estendendo o telhado, é apenas parte de um sonho que demoraram para conseguir concluir. E tudo isso foi feito sobre uma terra que conseguiram também com muito esforço. “Nós trabalhávamos em fazendas e fomos juntando um dinheiro.

Conseguimos dez mil reais e compramos isso aqui. As dificuldades aumentaram mas, conseguimos avançar muito. Agora, estão falando que vamos ter que abandonar tudo. Não podemos fazer isso. Só temos isso aqui. Se tiver que deixar esse lugar, não vou fazer. Eu vou morrer aqui. Vou lutar por isso até o último instante”, diz Rosângela com lágrimas nos olhos.

 

 

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