Porto Velho/RO, 19 Março 2024 14:22:40

Carlos Sperança

coluna

Publicado: 09/02/2024 às 09h48min

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Já fazem mais de 30 anos da ‘Década das Trevas’

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Molecagem climática

Houve quem atribuísse a seca fora do comum exclusivamente a fenômenos temporários, que os crentes chamariam de “vontade de Deus”, caso do famigerado El Niño. No entanto, uma batelada de estudos científicos, sem negar o peso dos fenômenos cíclicos, mostram que as desgraças esturricantes não tiveram sua gravidade determinada pelo moleque travesso nem por deuses inocentes.

Em seu tempo, o naturalista britânico Charles Darwin disse que “se a miséria de nossos pobres não é causada pelas leis da natureza, mas por nossas instituições, grande é a nossa culpa”. Culpa enorme, a julgar por estudo da World Weather Attribution (WWA) revelando que as mudanças climáticas acumuladas fizeram a seca até 30 vezes mais provável no período de junho a novembro do ano passado, inocentando o El Niño e as divindades. Pela pesquisa da WWA, as condições que levaram à seca rigorosa começaram em abril, antes do El Niño. Mais: depois de iniciada, ela se espalhou por uma área fora da influência dele.

Trocando em miúdos, quando ele veio, em junho, a Amazônia já estava em regime de seca. Se é certo que piorou o que estava ruim, não lhe cabe a responsabilidade integral pela tragédia. O que mais preocupa, nesse caso, é que as mudanças climáticas ocorridas tendem a se agravar e ir além dos fenômenos temporários. Se elas resultaram contínua ação ambiental destrutiva, os verdadeiros culpados são outros.

A diáspora

Não é à toa que a aprazível João Pessoa, a capital da Paraíba e a exuberante Florianópolis, a capitais de Santa Catarina receberam grandes contingentes de novos moradores nos últimos anos, algo em torno de 120 mil cada. Pelos mais variados motivos, desde o baixo custo de vida, belas praias, e o excelente preço dos imóveis em João Pessoa, e a qualidade de vida, o efetivo sistema de saúde e suas praias, no caso de Florianópolis Estas cidades tem sido as preferidas dos aposentados e quem busca novos negócios. Constato que esta tendência também existe em Porto Velho, uma cidade que perdeu 60 mil habitantes na década e segue esta mesma diáspora para SC e a PB.

A prioridade

O município de Ouro Preto do Oeste, berço da colonização rondoniense é uma das cidades mais carentes de saúde e muito tem se socorrido em Ji-Paraná e outros municípios. Mas o prefeito Alex Textoni, ao invés de destinar recursos para algo tão necessário, que é o atendimento da saúde, resolveu, para deixar seu nome marcado naquela cidade, um belo estádio municipal, que já está em fase de conclusão. A cidade sequer tem uma equipe de futebol disputando torneios importantes, mas estádio reluzente terá para atender a vaidade do alcaide local.

Década das trevas

Já fazem mais de 30 anos da década das trevas de Rondônia. Foram três deputados federais cassados, dois deles pelo tráfico de drogas uma outra parlamentar que arrotava integridade, por corrupção, e logo sem seguida o escândalo nacional das propinas na Assembleia Legislativa no Fantástico. Foram anos onde a imagem de Rondônia foi para o ralo. Assisti casos nos aeroportos de Brasília e de São Paulo, onde políticos locais indagados de que estado eram procedentes, renegavam Rondônia. Diziam que eram de Manaus ou Belém, até Rio Branco servia. Hoje a imagem rondoniense é avariada pelo narcotráfico.

Procura-se….

O povão acredita assim: que o caro cidadão de Porto Velho, procurando os piratas da madeira vai encontra-los, no Orgulho do Madeira, na Zona Leste, que é batata. Então, quer se filiar ao crime organizado? O destino é o Morar Melhor, na Zona Sul, onde existem pelo menos três escritórios do crime organizado montados para atender as facções. Se preferir entrar em contato com os barões da corrução, da extração ilegal de ouro e do tráfico de drogas das conexões Rondônia-Nordeste e outas regiões, o endereço seria é um determinado condomínio de luxo. E assim caminha a humanidade.

A mãe das secas

Até esperava um ano de 2024 palatável para os rondonienses e para a Amazonia em termos de estiagem, queimadas e normalidade hídrica, pois afinal o Rio Juruá, em Cruzeiro do Sul, no Acre, já está quase transbordando e o nível do Rio Madeira em Porto Velho mais ou menos dentro da normalidade esperada. Mas as previsões emanadas dos satélites não são nada animadoras e pode surgir por aqui a mãe de todas as secas nestas bandas, maior ainda do que a que padecemos em 2023 que já foi de arrasar. Aquela desgraceira toda que aconteceu no Amazonas estaria se encaminhando para parte do Rondônia e Mato Grosso em 2024. Será? Se for assim, estaremos literalmente – fritos.

Via Direta

*** Com grandes perdas demográficas nos últimos anos, Porto Velho acabou perdendo o posto de terceira maior cidade da região Amazônica para Ananindeua, município localizado na região metropolitana de Belém*** As duas primeiras cidades do Norte são Manaus e Belém e a capital amazonense já superando no último censo Curitiba com seus mais de 2 milhões de habitantes *** O recuo no preço da saca da soja preocupa os produtores rondonienses mas o cultivo de novas áreas segue se espraiando pelo estado ***Também se constata pequenos fazendeiros deixando a criação do gado bovino, devido aos altos custos com ração, sal, vacinas e outros produtos agropecuários. A choradeira tem sido grande.


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sobre Carlos Sperança

Um dos maiores colunistas político do Estado de Rondônia. Foi presidente do Sinjor. Foi assessor de comunicação do governador José Bianco entre outros. Mantém uma coluna diária no jornal Diário da Amazônia.

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