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Carlos Sperança

coluna

Publicado: 13/10/2023 às 13h17min

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Difícil definir se a falta de água para beber é na Amazônia uma contradição ou uma ironia

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Contradição e ironia

Difícil definir se a falta de água para beber é na Amazônia uma contradição ou uma ironia. É uma contradição quando se considera que a região comporta a maior bacia hidrográfica do mundo, na qual faltar água não faz o mínimo sentido. A ironia ocorre por conta do incorrigível descuido com o planejamento. 

A política de saneamento na região sempre foi uma de batata quente que não parava nas mãos de quem pegava. Ao ser criado, na ditadura do Estado Novo, o Plano de Saneamento da Amazônia mirava apenas a malária, cujo combate foi retardado pelos desentendimentos entre o médico Evandro Chagas, seu proponente, filho de Carlos Chagas, e os burocratas do regime.

Após a morte de Chagas, em 1940, a batata quente virou um batatal porque o saneamento não podia se limitar à malária: era fundamental melhorar as condições de vida e de saúde dos habitantes da Amazônia. Essas tarefas gigantescas, atribuídas ao comando centralizador da ditadura, foram retardadas pelo bate-cabeça dos burocratas. Tardiamente o governo percebeu o erro e transferiu responsabilidades aos estados, mas logo veio a II Guerra Mundial e o fim da ditadura, dando fim ao plano.

Desde lá, no forno das ditaduras e dos golpes, a batata quente, aquecendo ainda mais, secou. Se é nas dificuldades que o caráter se engrandece, as autoridades do país, estados e municípios têm uma oportunidade esplêndida para se engrandecer.

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A rodovia do Boi

Denominada agora, pelo governo do estado, como rodovia TransRondônia (… seria uma  homenagens as pessoas trans?), a rodovia do boi, no Cone Sul rondoniense beneficiando municípios como Corumbiara e Chupinguaia chega ao seu estágio final chamando atenção pela qualidade ( no padrão Ivo Cassol, o governador das estradas), com camada asfáltica generosa e bem fiscalizada por engenheiros e equipes técnicas do DER. Eu afirmo que fiscalizar obras com honestidade é algo raro em Rondônia e se isto está sendo feito de fato, meus parabéns a esfera estadual.

Que desgraceira!

Que zica em Rondônia. Ainda com muitos voos cancelados pelas empresas aéreas, a Estrada de Ferro Madeira Mamoré revitalizada que não deslancha para ser inaugurada para entrar em funcionamento e agora a construção do Hospital de Urgência e Emergência que foi para as cucuias e todo processo de licitação para ser refeito. A saúde em Rondônia que está um caos há muito tempo com muitas dificuldades em reagir. Não bastasse, o adiamento da ponte binacional, temos o cruel aumento do ICMS decretado pelo governo estadual atingindo o comércio varejista que vivencia tempos de crise. A gritaria é grande, de Vilhena a Porto Velho.

Falta fiscalização

Porque muitas obras são entregues pelas esferas municipais, estaduais e federais, com rachaduras, ou mesmo incompletas? Isto decorre da classe política que não fiscaliza, muitos políticos são amiguinhos das empreiteiras e com isto conjuntos habitacionais, creches, estradas, pontes, escolas se tornam esqueletos. As construtoras recebem os recursos e dão no pé com a cumplicidade dos gestores que foram eleitos para fiscalizar e combater a corrupção. Por isto se sabe quando as obras começam, mas nunca quando elas terminam em nosso estado e isto já vem de longe. 

Aposta da esquerda

A aposta da esquerda e centro esquerda é que o bolsonarismo não será tão forte assim em Rondônia em 2024 como foi nas eleições anteriores. Eu concordo com esta teoria, mesmo porque a influência do mito será mais reduzida, com as seguidas condenações e a inelegibilidade de Jair Messias já firmada pelo supremo. No entanto, o conservadorismo segue forte e poderoso e isto tem sido uma tradição rondoniense desde os primórdios. Tanto é a verdade que boa parte dos governadores nomeados ou eleitos tem sido com tendência conservadora, casos Teixeirão, de José Bianco, Ivo Cassol (dois mandatos) e Marcos Rocha (dois mandatos).

Na centro-esquerda

Já pela esquerda e centro esquerda, Rondônia emplacou Jeronimo Santana (MDB), um ex-guerrilheiro do MR-8, depois Valdir Raupp (centro esquerda), e Confúcio Moura (centro esquerda). Os favoritos para o governo estadual em 2026 são bolsonaristas, casos do atual senador Jaime Bagatolli (PL) e do prefeito Hildon Chaves (União Brasil). No último caso, Hildon é um bolsonarista mais suavizado e já está com as malas prontas para se transferir para o PSDB, um partido também considerado conservador diante de suas posições antagônicas ao PT.

Via Direta

*** Na Amazônia o garimpo do ouro foi identificado como um segmento auxiliar do tráfico e drogas para o exterior e propulsor da lavagem de dinheiro *** Não é novidade, pois em Rondônia isto ocorre há pelo menos quatro décadas *** Por falar nisto, as dragas instaladas na região do Belmont foram todas Madeirão abaixo, em explosões provocadas pelo Ibama e Polícia Federal na semana passada *** Defensores dos garimpeiros afirmaram que houve exageros nas ações federais contra a categoria e muita gente ficará sem trabalho na região de Porto Velho *** Numa coisa, pelo menos, eles tem razão: com a explosão as dragas afundadas com maquinário vai também o mercúrio para contaminar as águas já tão poluídas do Rio Madeira.


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sobre Carlos Sperança

Um dos maiores colunistas político do Estado de Rondônia. Foi presidente do Sinjor. Foi assessor de comunicação do governador José Bianco entre outros. Mantém uma coluna diária no jornal Diário da Amazônia.

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