Porto Velho/RO, 19 Março 2024 17:28:32

Larina Rosa

coluna

Publicado: 04/11/2020 às 05h44min | Atualizado 04/11/2020 às 16h23min

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A invenção do estupro culposo para inocentar homens

Essas desculpas nada mais são que o machismo estrutural escancarado revelando que o domínio do corpo da mulher deve ser do homem.

Incentivar uma mulher a não se calar diante de assédio ou estupro é o que mais acontece hoje em dia. Frases do tipo não tenham medo e denunciem é o que mais divulgam por aí. A verdade é que a minoria que incentiva a denúncia consegue se colocar no lugar de uma mulher que passou por essa situação.

Acontece que a coragem para denunciar esses casos vai além do que se pode imaginar em um país machista. Foi o que aconteceu com a promoter que foi dopada e estuprada em uma casa de show em Santa Catarina, mais um caso de injustiça de que uma mulher não deveria passar na vida.

Mesmo a jovem de 23 anos apresentando todas as provas que comprovem sua humilhação o empresário Aranha foi absolvido. Sim. A justiça aceitou que o empresário não havia como saber durante o ato sexual, se a jovem estava em condições de consentir a relação, portanto não existiu a intenção de estuprar. Assim o juiz aceitou o argumento de que o empresário cometeu um crime que não está previsto por lei, “estupro culposo”, logo entende-se que esse crime não existiu. É esse o resultado da busca pela justiça que tanto é incentivada as mulheres?

Para chegar a esse desfecho pavoroso Mariana ainda teve que lidar com o deboche e humilhações do advogado de defesa do empresário nas audiências do caso. Na ocasião o advogado mostra cópias de fotos sensuais produzidas pela jovem, para reforçar o argumento de que a relação ocorreu de forma consensual. Como se fizesse algum sentido, afirmar que a roupa ou fotos de uma mulher fossem motivo para ser estuprada. O mais difícil de lidar é que enquanto a jovem chora e tenta se explicar diante das acusações o juiz pouco interfere no show de horrores.

Está mais do que claro que a forma de se vestir tem a ver com gosto e beleza e nunca com a moral. Essas desculpas nada mais são que o machismo estrutural escancarado revelando que o domínio do corpo da mulher deve ser do homem.

Este caso reafirma que a denúncia pouco importa em um país onde as vozes masculinas são sempre as atendidas. Episódios como o desta jovem fazem com que milhares de mulheres abusadas e estupradas continuem com medo de denunciar esses crimes. E fazem com que nós torcemos para que não sejamos as próximas. E também nos fazem pensar; já que não podemos recorrer à justiça em um caso de crime de estupro, recorreremos a quem para denunciá-lo?

 

 


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sobre Larina Rosa

Larina Rosa é natural de Colorado do Oeste, Rondônia. Jornalista, redatora, repórter do Diário da Amazônia que acredita na luta contra a violência de gênero e igualdade de direito das mulheres na sociedade.

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