Porto Velho/RO, 19 Março 2024 16:37:52

Larina Rosa

coluna

Publicado: 09/11/2023 às 10h03min

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Quando o trabalho invisível é confundido com amor

O cuidado subtendido como responsabilidade da mulher é muitas vezes confundido com amor

Sabemos que o cuidado é fundamental para a manutenção da vida. Através dele estreitamos laços e melhoramos nosso desenvolvimento nas relações e interações humanas. Com atenção nos sentimos valorizados, sem ela simplesmente paramos de existir. No domingo passado estudantes de todo país reservaram um tempo durante a prova do ENEM e escreveram sobre os desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho e cuidado realizado pela mulher.

Achei o tema sensacional, bem escolhido e fez com que milhares de estudantes raciocinassem sobre a carga que é manter uma casa e cuidar de filhos, idosos e familiares doentes e também trouxe de volta o assunto a tona, a invisbilidade do trabalho doméstico.

Aproveitando o ensejo podemos repensar no pilar de reprodução e manutenção da nossa sociedade que faz com que as mulheres se desdobrem entre a educação, alimentação, segurança, higiene, cuidados com o companheiro e filhos.

Esse cuidado essencial para o funcionamento e manutenção da sociedade subtendido como responsabilidade da mulher, segue não sendo reconhecido como trabalho, já que ele é invisível e muitas vezes confundido com amor deixando-as cada vez mais sobrecarregadas.

É importante lembrar que somos socialmente ensinadas a cuidar, portanto o trabalho doméstico e de cuidado é atividade aprendida. Não é dom, não é particular das mulheres, não somos biologicamente voltadas ao cuidado, logo não há impossibilidade dos homens fazê-lo. Já eles não aprenderam a cuidar porque cresceram com a ideia que apenas eles merecem cuidados. Quem nunca viu um homem com gripe a um passo da morte? E uma mulher sendo chamada de forte por suportar alguma doença?

E por acaso, você já perguntou quem cuida delas? De acordo com as estatísticas, elas têm mais chances de serem abandonadas pelos parceiros quando estão doentes. Quando são diagnosticadas com câncer 70% das mulheres têm que lidar com a rejeição dos parceiros, ou seja, qualquer doença que afete a estética ou sinal de velhice já é pretexto para abandono.

Aquelas que chamamos de guerreiras trabalham em média 61 horas por semana, ou seja 9,6 horas a mais que os homens, em  trabalhos considerados invisíveis e desvalorizados. Essas ações perpetuam as desigualdades de gênero e continuam distanciando as oportunidades no mercado de trabalho e acadêmico entre elas e eles.

O trabalho invisível da mulher que também é confundido com amor não rende dinheiro e nem autonomia. Além da desigualdade de renda e dependência financeira elas seguem expostas com o maior número de casos de estresse, ansiedade e depressão.

Mesmo com a excessiva quantidade de informações sobre o tema, ainda temos que defender o óbvio. Precisamos garantir que elas tenham qualidade de vida adequada e destacar que atividade para manutenção da casa não é responsabilidade apenas de uma pessoa da família. Repensar velhos costumes, assegurar responsabilização social pelos cuidados dos filhos e da casa, dividir as tarefas e respeitar outro ser humano já é um começo, para deixar a vida dessas mulheres no mínimo mais justa.


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sobre Larina Rosa

Larina Rosa é natural de Colorado do Oeste, Rondônia. Jornalista, redatora, repórter do Diário da Amazônia que acredita na luta contra a violência de gênero e igualdade de direito das mulheres na sociedade.

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