Porto Velho/RO, 18 Março 2024 18:34:54

Larina Rosa

coluna

Publicado: 27/07/2023 às 13h08min

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Rondônia não gosta de mulher

A herança do machismo estrutural ainda prevalece no nosso estado e faz com que sofremos mais violência

A notícia de que Rondônia tem a maior taxa de feminicídio do país me acertou em cheio na última semana e despertou além da vergonha, certo desgosto e preocupação em saber que essa é a consequência da falta de políticas públicas e também consciência da população que vive aqui. Mesmo com nossos esforços em promover o diálogo e reflexão sobre violência contra mulher, agora moramos no estado que mais mata mulheres no Brasil.

Falar de violência contra mulher é ruim, sobre abuso é pesado, estupro então nem se fala. O assunto é delicado, desagradável e é muitas vezes evitado em casa, nas rodas de conversas com amigos, no trabalho, entrevistas de autoridades e projetos do governo e talvez por isso, pela falta de discussão sobre o tema, o aumento dos casos de agressão e morte dispara e evidencia o óbvio, Rondônia não gosta de mulher.

A crença de que somos subordinadas aos homens e que nossas vontades são menos relevantes é a herança do machismo estrutural que ainda prevalece no nosso estado e faz com que sofremos mais violência.

De acordo com os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o aumento de casos ocorreu devido ao distanciamento das políticas de proteção da mulher no último governo. Além do impacto da pandemia noexs serviços de acolhimento, redução de horários e equipes, crescimento dos crimes de ódio e aumento dos movimentos ultraconservadores, o anuário também destaca o aumento de casos com o fato delas romperem os papéis sociais atribuídos. Ou seja, enquanto avançamos somos castigadas. Nos últimos quatro anos, mais de 23 mil medidas protetivas foram requeridas em Rondônia, números que explicam o ódio contra elas por aqui.

A história de feminicídio se repete, a mulher que tentou romper o relacionamento indesejado resulta na maioria das vezes em morte ou ameaça do companheiro que não aceita o fim da relação. Esses casos que evitamos dar atenção estão estampados nas capas dos jornais do nosso estado diariamente e mesmo com o desgosto e receio seguimos nos esquivando do assunto.

Ano passado, no ano da eleição, o Governador de Rondônia prometeu durante os debates da campanha, a implantação da delegacia para mulher 24h, estamos em julho de 2023 e até agora o nosso estado ainda não conta com esse serviço. Também faltam casas de abrigos e creches para mulheres que precisam se livrar da dependência financeira do parceiro, um dos motivos que impedem a denúncia da violência e faz com que elas aguentem o sofrimento caladas.

A culpa do ranking vergonhoso para Rondônia não é só das autoridades. Ainda não vejo os digitais influencers daqui do estado usando suas redes para discutir temas sobre denúncia de violência contra a mulher e formas de identificar dependência emocional em um relacionamento abusivo. Talvez estejam muito ocupados divulgando a vida perfeita inalcançável ou não querem perder seguidores ou patrocinadores.

Também acompanho poucos homens se posicionando quando presenciam casos de agressão física contra uma mulher, assédio e outros tipos de violência. Sabemos que o agressor deve saber que sua atitude não é aceitável e reconhecer comportamentos machistas. Mas como isso pode acontecer, já que esses homens não são alertados nem quando fazem piadas machistas na roda de amigos e muito menos são reprovados?

Acadêmicos e professores também não são isentos, será que as pesquisas e as discussões da Universidade estão voltadas para o coletivo e estão fazendo diferença na vida das mulheres daqui?

Não adianta mais ignorar um problema cultural de saúde pública que está nos matando. Pensar no coletivo não é escolha, é necessidade já que todos nós moramos neste estado. E vivendo aqui, construindo família e laço neste lugar é dever seu e meu tentar evitar crimes hediondos que possam acontecer com nossas vizinhas, amigas, namoradas, esposas, filhas, mães e também desconhecidas. De desgosto em ranking nacional já temos muitos, dessa vez não podemos permitir mais esse.


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sobre Larina Rosa

Larina Rosa é natural de Colorado do Oeste, Rondônia. Jornalista, redatora, repórter do Diário da Amazônia que acredita na luta contra a violência de gênero e igualdade de direito das mulheres na sociedade.

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