Porto Velho/RO, 19 Março 2024 17:28:51

Larina Rosa

coluna

Publicado: 14/10/2020 às 06h00min | Atualizado 14/10/2020 às 08h52min

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O duplo preconceito contra as mulheres negras

Desde os períodos coloniais, a mulher negra é violentada e desvalorizada. Já passou da hora de combater o racismo aliado ao machismo

Está claro que a mulher independente de cor, raça ou classe pode ser vítima do machismo no Brasil. Porém os dados comprovam que os elevados números de casos de violência são contra as mulheres negras, resultado do pouco espaço delas na sociedade. O que estou querendo fazer entender é que o desafio de uma mulher negra vai além das dificuldades de uma mulher branca. Além de viver a discriminação de gênero a mulher negra também convive com racismo e preconceito que a faz ocupar a base da pirâmide social, fazendo parte do maior número de pessoas com menos acesso a direitos.

Para se ter uma ideia quase 75% das mulheres assassinadas no primeiro semestre deste ano no Brasil são negras. Já o número de vítimas de agressões cometidas por companheiros em casa e estupros diminui para quase 50%. Elas recebem menos devido a cor da pele, cerca de 43% menos que as mulheres brancas, de acordo com dados do IBGE. Também são as mais afetadas pela mortalidade materna 56% e pela violência obstétrica 65% e mesmo representando 28% da população brasileira, elas ainda estão com baixa representatividade na política.

Para entender a atual situação dessas mulheres é preciso compreender que o movimento negro contra o racismo foi liderado por homens que sem interesses nas lutas contra o sexismo sustentaram o machismo.Quando o movimento feminista começou não havia abordagem para a dupla discriminação que as mulheres negras passavam.  No livro Quem tem Medo do Feminismo negro? a autora Djamila Ribeiro aponta que enquanto as mulheres brancas lutavam pelo direito a votos e ao trabalho as mulheres negras lutavam para serem consideradas pessoas.
A falta de percepção do estado tem feito com que as mulheres negras sofram todos dos tipos de preconceitos para acessar direitos básicos como saúde, educação, justiça e renda. Com menos acesso a esses direitos elas sofrem com a pressão de gênero, raça e classe.

Enquanto o padrão de beleza continua com o da mulher branca, milhares de mulheres negras não se enxergam bonitas. A falta de representatividade delas nas mídias perdura a opressão e o terrível silenciamento.

Entender que as mulheres negras querem ser amadas respeitadas não é difícil. Até quando a falta de políticas públicas para combater o racismo aliado ao machismo colocará a mulher negra em situação desfavorável a mulher branca? Desde os períodos coloniais, a mulher negra é explorada violentada e desvalorizada. Já passou da hora de combater o racismo aliado ao machismo.

Se já é difícil ser mulher em um mundo patriarcal machista imagina só o que é ser mulher em um mundo também racista. Viver em um país que acha que não existe racismo e nem o machismo não muda o fato de que as mulheres negras continuam sendo mortas por ser quem são.


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sobre Larina Rosa

Larina Rosa é natural de Colorado do Oeste, Rondônia. Jornalista, redatora, repórter do Diário da Amazônia que acredita na luta contra a violência de gênero e igualdade de direito das mulheres na sociedade.

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